Opinião
WILSON FUÁH – O mundo do Cururu e Siriri em Cuiabá
Só para ilustrar e não querendo ser professor para neófitos em história sobre coisas da cuiabania, vamos relatar o que é o Siriri e o Cururu, de um modo mais simples e de acordo com as nossas vivências e observações pessoais:
O Siriri é dançado e cantado por homens e mulheres, sendo também bastante apreciado pelas crianças, era festa de terreiro que varava noite e ia até o dia clarear, tendo em suas cantigas, versos com palavreados dos cantos simples e repetitivos, fácil para decorar e a animação da dança tinha a sua formação em roda, depois passa pela formação em fileiras, onde os dançarinos batia as palmas das mãos entre os componentes das fileiras opostas e cantando em voz alta seguia em ritmos alegres e vibrantes.
O Siriri é uma dança cantada em ritmos frenéticos, tendo usualmente a composição em pares, e vestimentas de forma bem coloridas, (antigamente era usada a própria roupa da festa). Já os instrumentos na sua forma mais rude são compostos de: Viola de Cocho, Ganzá e um Mocho (banco de madeira com quatro pernas e revestido de couro de boi) e os cantadores com ritmo forte vai na mesma toada dos componentes da dança, só que o ritmo é mais rápido do que as cantigas dos cururueiros, vão formando quadras com cantiga em versos sobre amores, a natureza, os costumes regionais e fatos políticos.
Muito se discute a origem do Siriri, tendo muitas versões, sendo que a mais aceita é que existe um formigão com asas que anda dando volta em si mesmo, e que também é chamado de “cupim de asas” que movimenta na mesma forma da dança, e que geralmente sai voando após o final das chuvas, tem até um ditado que diz: “Siriri saiu, chuva parou”.
O Cururu é composto de músicas e danças executadas apenas por homens em forma de roda, não há participação de mulheres ou crianças, onde os tocadores de Viola de Cocho balança de um lado para outro, dentro da roda, folgando dentro da roda em passos iguais, ( sem encostar uns nos outros), assentando ora o pé esquerdo, ora o pé direito e finalmente batendo os dois pés em forma de dança até quase a ajoelhar-se, e durante a dança as violas quase chegam a tocar uma viola na outra.
Nos terreiros das fazendas os cururueiros, reuniam em grupos de cantigas e a própria danças dos tocadores de cururu eram realizadas no terreiro próximo a casa da festa, é o lugar onde cantadores soltavam suas vozes fortes que chegava até a engrossar as veias do pescoço. Eram toadas tradicionais e as cantigas eram feitos de improvisações criativas dos cantadores, com temas de amor, religião e causos inventados na hora.
Instrumentos usados: Viola de Cocho, Ganzá de Bambu, Pandeiro feito de pele de Cotia ou Veado e Mocho revestido de couro de boi. São os próprios cururueiros que confeccionavam os seus instrumentos, com técnicas próprias que iam passando de pai para filho, com isso a cultura seguia perpetuando e vencendo o tempo.
Tanto o Siriri como o Cururu, fazem parte das danças tradicionais dos ribeirinhos e dos pantaneiros, e fazem parte da tradição das pessoas humildes que reuniam nas fazendas e lugarejos, e realizavam grandes festas populares e religiosas. Sempre após as rezas aos Santos Festeiros, começa o momento mais alto da festa, com as apresentações das danças de siriri e cantigas dos cururueiros varando a noite e a alegria regada com uma boa pinga (com raiz de bugre e nó de cachorro) e essa alegria da festa entravam pela mata adentro quebrando o silêncio da noite, o som das cantigas forte dos cururueiros eram ouvidas a longa distância e acordavam a vizinhança, e a pessoas, partiam seguindo a barulheira vindo das festas, e chegavam em lombo de cavalos ou carros de boi, assim a festa seguia até o dia clarear .
Contavam uma história, que durante a cantiga, um cururueiro na sua dança, rodopiou muito forte, e ralou seus olhos numa espinha de laranjeira, e gritou bem alto:
Furei meu olho,
Ai, ai, ai, ai
E outros responderam:
Furou, furou, furou, furou
Mas doeu,
Doeu, doeu, doeu.
Mas na verdade ele tinha ralado os seus olhos de verdade, porque o terreiro estava meio escuro e o pé de laranjeira estava muito próxima da roda de cururu, e com a cabeça cheia de pinga e com o rodopio muito forte ele foi parar na espinha da laranjeira.
Tudo que se relaciona com a cultura cuiabana, está intimamente ligado as cidades que tem história comum com a cuiabanidade: Várzea Grande; Santo Antônio do Leverger; Barão de Melgaço; Nossa Senhora do Livramento; Poconé; Cáceres; Rosário Oeste e Diamantino e outras até o meio norte do estado.
Essas cidades mais antigas têm a mesma formação cultural de Cuiabá, toda a culinária e costumes são praticamente iguais. A cultura das danças de Siriri e cantigas de Cururu estão espalhadas nas redondezas dessas cidades, fazem parte das festas das fazendas e lugarejos, onde se formavam grupos que preservavam nos seus conhecimentos pessoais e eram passados de pai para filho, que vai desde a confecção das Violas de Cochos, Ganzás, Mocho, e preservando também o jeito de cantar e dançar, impressionante é que essa cultura já demanda três séculos e apesar dos meios de comunicações divulgar de forma precária (em épocas passadas) essa cultura foi preservada por todas essas cidades circunvizinhas de Cuiabá.
Cabe a nós cuiabanos, que amamos esta terra mãe, a obrigação de preservarmos essa cultura linda que é genuinamente nossa, não deixe que esses falsos formuladores de programas culturais que tomaram conta de Cuiabá e alguns dirigentes sem cultura e sem respeitar a histórias dos ancestrais, queiram um dia acabar com o Cururu e o Siriri. Não deixe que essas pessoas que não tem nenhum compromisso com o nossa história, possam impor aos nossos jovens, cultura alienígena do seu mundinho em desfavor do Cururu e do Siriri, temos que exigir que respeitem a nossa cultura e a nossas tradições.
Um recado aos que não são cuiabano, mas fizeram de Cuiabá a sua segunda morada: procurem integrar-se a nossa felicidade, procurem ter um espírito festeiro, respeitem a nossa história, pois quem sabe um dia ficando por aqui, terão filhos cuiabanos que amarão esta terra como nós que também nascemos aqui.
Economista Wilson Carlos Fuah – É Especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas. Fale com o Autor: [email protected]
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