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Opinião

ROSANA LEITE – O que março tem a nos dizer

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Mais um mês de março, que é dedicado às mulheres se avizinha, e o que se tem a contar? As perguntas em torno desse período são as mesmas. Temos mudanças? Temos avanços? Quais são os desafios atuais?

Sim, claro, as mudanças são significativas. Desde o direito ao voto, até os dias atuais, são muitas conquistas em prol dos direitos humanos das mulheres. E elas, onde e como estão? Como inúmeras vezes se diz: elas estão onde querem estar, ou seja, em qualquer lugar e em todos eles.      Entretanto, e as conjunções adversativas são reais, tendo sido possível assistir a muitas situações… Mulheres que enfrentam a tudo e todos para estudar e trabalhar. Mulheres com “obrigações” intermináveis nos lares.

Mulheres exploradas em seus trabalhos, por serem mulheres. Mulheres que ficam com a parte de menos impacto no labor. Mulheres que são taxadas de não saberem dirigir ou pilotar, mas que servem para levar e buscar sozinhas os filhos e filhas na escola.

Mulheres que são responsabilizadas pelos desacertos dos rebentos. Mulheres nas duplas e triplas jornadas. Mulheres que sozinhas, mesmo morando com companheiros, têm para si a obrigação de cuidado e administração do lar.

Mulheres em seus locais de trabalho sendo menosprezadas e assediadas. Mulheres a se calar em casa para que o clima não fique ruim. Mulheres a servir de escadas para homens na política.

Mulheres humilhadas e constrangidas com cantadas nas ruas. Mulheres a tentar explicar que podem e devem estar em todos os lugares, com as mesmas oportunidades dos homens.

Mulheres que são taxadas de loucas e desvairadas ao expor as suas opiniões. Mulheres que ao contraírem um segundo relacionamento são julgadas. Mulheres que ao sofrerem violências sexuais são culpadas pelo crime cometido contra elas.

Mulheres que são preteridas no exercício de cargos de poder e direcionamento. Mulheres expostas em suas vivências. Mulheres com corpos objetificados. Mulheres que sofrem feminicídios, por serem mulheres. Enfim, mulheres a explicar a outras mulheres sobre feminismo.

É, março tem muito a dizer… As mulheres são lembradas, são homenageadas, recebem flores e bombons. E é a época onde mais se propalam os direitos humanos das mulheres.

Palestras, rodas de conversas, colóquios, divulgação da legislação, acontecem frequentemente, para que o assunto possa ser fomentado. E passamos, ano a ano, após o término desse mês a vislumbrar mudanças no tratamento delas, pelo menos um dia que seja? A cada março que se vai, as estatísticas de violência contra as mulheres diminuem? Ah, as mulheres são poupadas pelo menos no dia 08 de março, que é um marco internacional?

As palavras servem para nos trazer para a realidade, sempre. Hoje, podemos falar. E poder expressar em palavras, penso, é a maior das conquistas.

Trazer reflexões! Antes, era impossível, aliás, poderíamos ser queimadas por isso. Se em épocas anteriores era temerário verbalizar, hoje é provável.

Sofrimentos, perseguições, discriminações, e preconceitos pela fala, também podem ser vistos. Todavia, o “calar”, de vez, como no linguajar cuiabano, é o pior.

E foi justamente através da verbalização, ao poder externar a dor, que a sociedade passa a compreender que não há igualdade. Que canções e piadas ferem e potencializam violências.

Que respeitar perpassa pela multiplicidade das mulheres. E que empoderar é verbo muito falado, mas, que a real conjugação não pode ser a mesma para todas, devendo-se pensar na interseccionalidade, sob pena de brutal injustiça.

No mês de março as mulheres não querem: ser chamadas de guerreira para justificar excesso de trabalho nas costas delas; de fortes, para que elas aguentem toda e qualquer “pedra” como se naturais fossem; de lindas para ganharem migalhas justificadas em torno de “carinho” irreal; de boas mães e donas de casa para que as duplas e triplas jornadas persistam. É de se garantir o que elas querem: normas sendo cumpridas; jornadas divididas; trabalho compartilhado; assédios extirpados; violência retirada.

Tenho certeza, por fim, que as mulheres não são princesas e nem rainhas. São reais, em busca de tratamentos ideais. São avós, mães, tias, filhas, amigas e companheiras. E onde uma delas estiver, a voz de todas deve ecoar.

Que neste março, como nos próximos, a indiferença e a hipocrisia possam se distanciar, dando lugar ao que é fidedigno. E se  assim não for, outros marços “mais do mesmo” chegarão. Infelizmente…

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual

 

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