Saúde
Presente em 16 milhões de brasileiros, diabetes é principal causa de doença cardiovascular
Um novo estudo realizado no Brasil por pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a hiperglicemia, resultado do diabetes não controlado, é o fator de risco modificável – passível de ser evitado com acompanhamento adequado – que mais impactou no número de mortes por doenças cardiovasculares no País.
De acordo com o endocrinologista Guilherme Borges isso reforça a importância do controle dos níveis hormonais do paciente como parte fundamental da manutenção da saúde. “Vemos que diversos hormônios têm relação com doenças cardiovasculares e, por isso, as doenças endócrinas precisam ser levadas a sério, acompanhadas e tratadas de forma adequada”, afirma.
Maior risco de doenças cardiovasculares
De fato, dados do Atlas do Diabetes da International Diabetes Federation (IDF) mostram que o Brasil tem 15,9 milhões de habitantes com diabetes. Esses números se tornam ainda mais preocupantes diante da relação com doenças cardiovasculares, consideradas líderes de mortalidade no Brasil. De acordo com informações da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma dessas doenças e 400 mil morrem em decorrência delas todo ano.
Com relação ao diabetes, o endocrinologista Guilherme Borges esclarece que, quando descompensado, ele leva a um processo inflamatório importante que prejudica a função dos vasos sanguíneos, principalmente suas camadas internas. “Existe uma chance maior de doença aterosclerótica, de acúmulo de gordura nas artérias. Essas placas podem ser mais inflamatórias, podem se romper com mais facilidade e gerar eventos isquêmicos como, por exemplo, o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC)”, completa.
No estudo realizado pelo Incor, foram comparados dados de diferentes entidades para cada fator de risco cardiovascular. Na pesquisa, foi possível correlacionar uma redução de mortalidade e incidência com a redução nos índices de tabagismo. No entanto, houve aumento nos índices de hiperglicemia, obesidade e dislipidemias. Por um lado, isso teria evitado mortes em fumantes, mas teria aumentado os casos em pessoas com diabetes descompensado. “A causa cardiovascular é a principal causa de morte nos pacientes como um todo, mas principalmente em pacientes com diabetes”, alerta Guilherme.
Além do diabetes
Segundo o especialista, muitas vezes o paciente com diabetes é classificado como tendo alto risco cardiovascular, o que leva a uma maior preocupação com seus níveis de colesterol. Sendo assim, a meta de LDL, mais conhecido como colesterol “ruim”, é mais rígida e, quando se trata de uma pessoa que além do diabetes também já teve algum evento cardiovascular a meta é ainda mais baixa. “Existe uma correlação direta entre a redução de LDL colesterol e a redução de eventos cardiovasculares. Isso parece proteger bastante o paciente desse ponto de vista”, pontua Guilherme.
Para todos os efeitos, o diabetes não é a única preocupação quando o assunto são distúrbios metabólicos que aumenta o risco de doenças cardiovasculares. O endocrinologista explica que o excesso de hormônios da tireoide pode aumentar o risco de arritmias e de morte cardiovascular. Além disso, alterações na hipófise, causadas pela rara Doença de Cushing, podem estimular as glândulas adrenais a produzirem muito cortisol, desencadeando um processo de acúmulo de gordura na região mais alta do tronco, obesidade, pré-diabetes e diabetes.
No mesmo sentido, o sobrepeso e a obesidade também são ameaças à saúde cardiovascular por serem doenças inflamatórias que elevam o risco de doenças crônicas já citadas, de hipertensão e até de alguns tipos de câncer como o de endométrio em mulheres.
Acompanhamento e hábitos saudáveis
Diante disso, o acompanhamento com endocrinologista se mostra fundamental. Contudo, o médico Guilherme Borges destaca o valor da adoção de hábitos saudáveis, algo que anda ausente da rotina do brasileiro. O último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 40,3% da população com mais de 18 anos de idade foi classificada como “insuficientemente ativos”. Para essa parcela, a prática de atividade física é inferior a 2h30 semanais, incluindo lazer, trabalho e deslocamento.
“Costumo dizer aos pacientes que exercício é remédio e é um remédio que você encontra nas diretrizes das mais diversas doenças crônicas que existem, desde depressão e ansiedade até doenças autoimunes, doenças osteoarticulares como a osteoporose e doenças metabólicas como hipertensão, diabetes, obesidade e sobrepeso”, completa o especialista, que recomenda ainda boa hidratação, melhora da composição corporal e acompanhamento nutricional.
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