Opinião
LIEBER FAIAD – Vazio existencial e adoecimento coletivo
A humanidade vivenciou, após a 2ª guerra mundial, um grande desenvolvimento econômico, social, político, artístico e tecnológico. Mesmo caminhando para satisfazer todas as necessidades de consumo, há uma questão que segue frustrada gerando muita dor e frustração. Falta, para a maioria de nós, “vontade de sentido”.
Um sobrevivente dessa trágica guerra, que sentiu na pele os horrores dos campos de concentração, o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, após 10 anos do fim do conflito, publicou um livro abordando pela primeira vez o termo “vazio existencial”, que, em síntese, refere-se à busca constante do ser humano por um sentido e na frustração de não conseguir essa realização.
Por que tudo isso é muito sério? Falta de sentido na vida e vazio existencial são frequentemente mencionados como fatores de risco ao suicídio, que infelizmente cresceu 6% ao ano no Brasil, entre 2011 e 2022, conforme um estudo publicado em março deste ano na The Lancet Regional Health – Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard.
Como estamos diante de um contexto complexo e delicado, precisamos estar atentos aos sintomas desse vazio nas pessoas próximas, que são três: agressividade, depressão e viciação. Mesmo que a manifestação desses sintomas e as variadas gradações e formas sejam diferentes em cada pessoa, a origem costuma vir dos sentimentos de tédio e indiferença.
Com o primeiro (tédio), vamos perdendo o interesse pelo mundo, pela vida; e com o segundo (indiferença) vamos deixando de investir na vida, ficamos sem a iniciativa de realizar. Atenção às falas como “tanto faz”, “não sei” e “pouco importa”, já que vão nos dando notícias desses sentimentos e os seus sintomas vão cada vez mais aparecendo.
Para lidar com a apatia, a frustração, as dores em seus variados níveis e estados (fisiológicos e emocionais) e com qualquer problema, muitos de nós acaba recorrendo a meios compensatórios que trazem sensações de prazer. Olhando à nossa volta, quantas pessoas que conhecemos estão passando por momentos de depressão, outras se tornaram agressivas e há ainda aquelas que passaram a gastar considerável quantidade de dinheiro com apostas on-line?.
Podemos colocar aqui outros fatos que merecem atenção, como o aumento de consumo de bebidas alcoólicas, de pornografia e sexo sem medidas, isolamento do contato social, compulsão alimentar entre tantas outras formas. O que precisamos fazer então? Vencer o tédio e a indiferença.
Para conseguir isso, é necessário primeiramente cuidar da gente, o que significa buscar recursos na psicoterapia, no contato com amigos e familiares, em livros, no trabalho voluntário, em atividades na natureza, na prática regular de exercícios físicos, e em diversas atividades que promovem bem-estar e qualidade de vida.
De modo geral, a busca pelo sentido na vida começa quando mudamos gradativamente a sintonia em que nos encontrávamos para fazer escolhas conscientes e que façam “sentido”, mas sem a necessidade de gastar uma fortuna por isso, como convidar amigos para assistir um filme na nossa casa ou vice-versa.
Embora tenha se transformado um termo recorrente ou até banalizado na sociedade atual, poucas pessoas compreendem a profundidade do termo propósito. De origem do latim “proponere”, significa colocar à frente, expor à vista. Ou seja, um propósito de vida é o que direciona toda a nossa trajetória existencial e geralmente é fundamentado em nossas crenças e valores.
Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, “o ser humano precisa de água, de comida e de sentido. Nos alimentamos de sentido”. O guia espiritual Buda e o ativista Martin Luther King Jr. diziam o mesmo: “seu propósito na vida é encontrar um propósito e dedicar a ele todo o seu coração e a sua alma”; “se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver”.
A partir desses exemplos, vamos observar o quanto é importante ter um propósito que transcende e nos oportuniza deixar um legado ao mundo e às pessoas. Podemos sim encontrar sentido naquilo que fazemos, e não fazer apenas o que disseram que é preciso. Deixo a você o convite para viver esse processo de autoconhecimento e de expansão de consciência!.
Lieber Faiad, psicólogo com formação em Logoterapia (Terapia do Sentido da Vida), pós-graduando em Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade pela CBI of Miami
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