O Direito, mais do que um conjunto de normas, é uma expressão de humanidade.
E a humanidade, quando se revela em sua inteireza, tem o olhar, a escuta e a sensibilidade de uma mulher. Em tempos em que o país ainda sangra com as marcas da violência de gênero, a presença feminina nas instituições judiciais e políticas se torna uma urgência moral e social.
Em Mato Grosso, onde os números de feminicídio atingem índices alarmantes, a cada mulher silenciada pela brutalidade se renova o compromisso de todas nós em transformar a dor em movimento e a esperança em ação concreta.
A mulher que ingressa no Judiciário pelo Quinto Constitucional não leva apenas sua trajetória profissional, mas toda uma história de enfrentamentos, superações e empatia. Traz consigo o olhar de quem conhece de perto as desigualdades e as lutas silenciosas de tantas outras mulheres. Sua presença representa o avanço de uma justiça que se humaniza que não se fecha nos códigos, mas que se abre à compreensão da vida real e de suas feridas.
A sensibilidade feminina, tão frequentemente confundida com fragilidade, é na verdade o que dá sentido à força do Direito. É o que impede que a letra da lei se torne fria, e que as decisões se afastem do pulsar da realidade.
Quando uma mulher ocupa um espaço de decisão, a justiça ganha novos contornos. Sua forma de ver o mundo não é linear nem distante; é profunda, plural, afetiva. É capaz de reconhecer na vítima de violência não apenas uma parte em um processo, mas um ser humano que precisa ser protegido, amparado e ouvido.
Em um Estado onde tantas mulheres são vítimas de feminicídio, o olhar feminino dentro das instituições se torna uma ferramenta indispensável para que o sistema de justiça se converta, cada vez mais, em verdadeiro instrumento de transformação social.
A mulher, em sua trajetória jurídica e humana, carrega uma capacidade singular de unir forças. Ela compreende que o enfrentamento à violência contra a mulher não se dá apenas no âmbito judicial, mas exige o diálogo entre as instituições, a integração entre o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria, as polícias, os órgãos de assistência social e a sociedade civil, e é nesse diálogo que se constrói uma rede de proteção sólida, capaz de acolher a vítima antes que ela se torne um número nas estatísticas.
Mas a presença feminina também é essencial na formulação de políticas públicas, pois quem vive a desigualdade sabe onde a lei precisa tocar.
A mulher, quando participa das decisões, traz para o centro do debate temas muitas vezes relegados à margem: o direito à dignidade, à proteção, ao respeito. Sua sensibilidade não a distancia da razão jurídica — pelo contrário, dá-lhe mais alcance, tornando a aplicação da lei um ato de justiça plena, e não mero formalismo.
O Quinto Constitucional é, assim, uma porta que se abre não apenas para a pluralidade técnica, mas também para a pluralidade de almas que compõem a Justiça.
A advocacia, especialmente a exercida por mulheres, carrega consigo o peso da escuta social e o dom da proximidade com o povo. É dessa escuta que nasce uma magistratura mais humana, comprometida com o ideal de uma justiça que não apenas decide, mas compreende, acolhe e educa.
Combater o feminicídio é mais do que punir; é reconstruir valores, é educar para o respeito e para a igualdade. É fazer com que o Estado e as instituições sejam espelhos de uma sociedade que valoriza a vida e reconhece na mulher sua força essencial. Por isso, a inserção feminina nas esferas de poder é ato de coragem, de justiça e de amor à humanidade.
Cada mulher que ascende a um espaço de decisão leva consigo muitas outras. E cada cadeira ocupada por uma mulher no Judiciário, no Parlamento, na política, é um passo a mais na construção de um país em que ser mulher não signifique correr risco de morte. O combate ao feminicídio começa com a presença, com a escuta, com o exemplo. Começa quando o olhar da Justiça se encontra com o olhar da mulher.
O Mato Grosso precisa, mais do que nunca, de vozes femininas firmes e corações sensíveis no seio de suas instituições. Porque é da união entre razão e sensibilidade que nasce a verdadeira justiça. A presença feminina no Quinto Constitucional não é apenas representatividade — é o gesto que reafirma o compromisso com a vida, com a dignidade e com a transformação de uma sociedade que, apesar da dor, ainda acredita no poder curativo da empatia.
A mulher, com sua força serena e sua sensibilidade aguda, é capaz de fazer da Justiça não apenas um espaço de julgamento, mas de reconstrução.
Que o Quinto Constitucional, portanto, continue sendo o instrumento que abre portas para que essa voz feminina ecoe forte, unindo instituições e corações em uma só causa: a defesa da vida e o fim do feminicídio.
Michelle Dorileo é advogada