GISELA SIMONA

Uma reflexão sobre as vitórias das mulheres neste pleito

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Uma reflexão sobre as vitórias das mulheres neste pleito

Por muito tempo, a política foi um território majoritariamente masculino, refletindo uma sociedade desigual que não reconhecia plenamente a capacidade das mulheres de liderar e transformar. No entanto, os números das últimas eleições mostram que estamos vivendo um momento de ruptura com esse passado. Ainda que em Mato Grosso, este reflexo esteja mais fortemente registrado na vitória das 277 vereadoras. Um aumento de 21% na participação feminina nas câmaras municipais em relação a quantidade de mulheres eleitas na legislatura de 2020.

Se apontarmos este resultado para Cuiabá, a elevação no parlamento é histórica, pois subiu de duas participações femininas registradas no pleito de 2020, para oito em 2024. Ou seja, um crescimento nunca antes visto na capital mato-grossense. E tendo como destaque a vitória de Samantha Íris que se tornou a mulher mais votada da história de Cuiabá, recebendo 7.460 mil votos. Além de ainda ser a primeira-dama, esposa do prefeito Abílio Brunini.

Já em se tratando de prefeitas, em Mato Grosso, saimos das urnas 9,22% menores, se comparado à 2020. Dos 142 municipios, apenas 13 tiveram mulheres eleitas e reeleitas, enquanto na última eleição esse número era 15. Em se tratando de  vice-prefeitas elas subiram e chegaram a 30.

Em contrapartida, no cenário nacional, as mulheres eleitas cresceram, passaram de 656 para 724. Ainda que esta elevação represente 15,5% do total de eleitos no país.

Mas enquanto deputada federal e mulher negra, enxergo sim belas vitórias e as enxergo não apenas como uma conquista política, mas um marco social, pois cada cadeira ocupada por uma mulher em câmaras municipais ou prefeituras representa uma voz que amplia a diversidade de perspectivas e torna a política mais inclusiva.

Um sinal de que nossos espaços estão sendo conquistados com resiliência e determinação. Pois sabemos que a presença feminina nos espaços de poder ampliam debates e pautas que muitas vezes são ignoradas como a saúde materna e infantil, combate à violência contra a mulher, a desigualdade salarial, inclusão social, creches e educação de qualidade, entre dezenas de outras discussões.

A ascensão das mulheres à política também significa questionar estruturas sociais e políticas que, historicamente, nos relegaram a posições secundárias. É preciso compreender que, ao ocuparmos esses espaços, não estamos apenas quebrando barreiras, mas transformando o jeito de fazer política. Sabendo, de antemão, que essas conquistas não foram fáceis e que cada mulher eleita enfrentou uma combinação de preconceito, subfinanciamento de campanhas, falta de apoio partidário e o desafio de equilibrar responsabilidades familiares e profissionais. Para mulheres negras, indígenas e outras minorias, essas barreiras são ainda mais altas, devido ao racismo estrutural e à sua exclusão histórica.

E sabemos que mesmo após a eleição, essas mulheres deverão continuar enfrentando resistência dentro das casas legislativas e executivas, onde o assédio político e a tentativa de silenciamento são realidades. Por isso, o fortalecimento da rede de apoio entre mulheres na política é fundamental para superar esses desafios.

Como deputada federal, vejo como essencial o papel da Câmara e do Senado em ampliar as condições para que mais mulheres se candidatem e sejam eleitas. Aprovamos recentemente importantes legislações, como o Pacote Antifeminicídio, que ajudam a proteger as mulheres, mas é preciso ir além. Assim, a 'queda de braço' apenas começou e devemos lutar para garantir recursos reais e justos para campanhas de mulheres, impedir a anistia dos partidos quando se trata de descumprimento das nossas conquistas.

Ainda combater o assédio político, criminalizar as dezenas de práticas que ainda hoje tentam deslegitimar ou silenciar as vozes femininas. Mas para isso precisamos trabalhar fortemente na sua formação política, ampliando o acesso de mulheres a cursos e programas que as preparem para o cenário político.

Pois faz-se necessário entender que a luta por igualdade na política não é apenas uma questão de justiça, mas de democracia. Uma sociedade plural precisa ser representada por lideranças diversas, que reflitam as realidades e demandas de todos os segmentos da população.

Desta forma, ao olharmos para o futuro, é indispensável consolidar essas vitórias e garantir que as próximas gerações de mulheres tenham caminhos menos árduos para trilhar. Precisamos construir pontes entre vereadoras, prefeitas, deputadas e senadoras, articulando agendas comuns que fortaleçam os direitos das mulheres e promovam uma política mais inclusiva e transformadora.

E, claro, desejar, em especial, que na capital mato-grossense nossas vitórias tenham resultados práticos, sobretudo, nas oito pastas conduzidas por mulheres das 25 que compõem o staff do novo prefeito Abílio Brunini.

Assim, parabenizando o novo gestor que deu protagonismo à mulher em sua administração, ao promover lideranças femininas e mostrar que é hora de unir forças, estreitar parcerias e garantir que as mulheres não sejam apenas vistas, mas igualmente ouvidas e dadas à elas condições reais de trabalho e autonomia. Em nome, inclusive, de um tempo comprometido com políticas mais inclusivas e mais justas.

Gisela Simona é advogada e deputada federal pelo União Brasil-MT