Há viagens que não se mede em quilômetros, mas em suspiros. O Rio de Janeiro, para mim, foi mais do que um destino: foi o oásis onde minha alma descansou depois de tantas travessias áridas.
Fazia anos que eu não sabia o que era partir com a bagagem leve. Sem a ansiedade do trabalho. Sem o peso dos olhares que julgam. Sem a pressa que consome os dias. Apenas fui. E, ao me permitir isso, encontrei o que tanto buscava: silêncio por dentro, liberdade por fora.
Na imensidão de Copacabana, deixei minhas inquietações se dissolverem nas ondas. O vai e vem do mar embalava meus pensamentos como quem acalenta uma criança cansada. O cheiro salgado da brisa, a espuma que molhava os pés, o horizonte em azul profundo — tudo parecia me lembrar que a vida não precisa ser tão pesada. Cada maré levava embora o que não me servia mais e me devolvia apenas o essencial: a leveza.
Na mistura de caos e encanto do Rio, aprendi que o verdadeiro refúgio não está em fugir, mas em se entregar ao momento. Ao vento que sopra no rosto. À vida que pulsa sem pedir licença.
Na entrega, compreendi algo essencial: é preciso dar espaço a quem o universo coloca em nosso caminho. Pela primeira vez, em um instante que valeu por uma vida, senti o que era ser cuidada. Sempre fui a que doava, a que oferecia sem olhar para si. Ali, diante da vastidão do mar e da generosidade da vida, percebi que também mereço receber.
No domingo à noite, vivi outro encontro inesperado: assisti à peça Simplesmente Clarice Lispector. Sentada e encantada pela arte de Beth Goulart, percebi que havia muito de Clarice em mim. Afinal, foi através da escrita que comecei minha cura. Foi pela palavra que me permiti recomeçar com a leveza e a alegria de uma criança que ganha um presente.
E, para mim, o presente é a chance de escrever uma nova página em branco, onde tudo pode ser diferente, visto agora com outro olhar.
O maior dos oásis é aquele que floresce dentro da gente, quando ousamos permitir que a alma respire sem amarras e que o coração se abra para encontros inesperados.
Hoje entendo que Copacabana não me ofereceu apenas suas ondas e sua beleza. Ela me devolveu a mim mesma — leve como a maré que vai e volta, sempre capaz de recomeçar.
Soraya Medeiros é jornalista com MBA em Marketing