GABRIEL NOVIS NEVES

Um papa em Cuiabá

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Um papa em Cuiabá

Com os feriados da Semana Santa, de Tiradentes e a morte do Papa Francisco, talvez tenhamos a semana de trabalho mais curta do ano.

Não foi decretado feriado nacional pela morte de Francisco, mas, como sempre acontece no Brasil, estabeleceu-se ponto facultativo — e, na prática, a nação parou.

O impacto de sua partida para o Reino de Deus mobilizou de tal maneira a população, que, perplexa, não desgruda da televisão, acompanhando os funerais.

Escrevo numa manhã de terça-feira (22), totalmente diferente das outras da semana.

O mundo anda tão carentes de líderes — e o nosso maior partiu, como sempre, antes da hora.

Chefes de Estado se dirigem ao Vaticano para se despedirem do Papa.

A primeira vez que vi o Papa não foi em Roma, mas na esquina da rua Major Gama com a avenida 15 de Novembro.

Voltei para casa com minha mulher, filhos e funcionárias, sem entender bem o que havia presenciado.

Até então, para ver o Papa, era preciso ir a Roma!

Foi um dos muitos mitos que vi desabar no século XX.

O Papa comandava o mundo a partir do Vaticano — uma nação dentro de Roma, na Itália.

João Paulo II esteve no Brasil em três oportunidades: 1980, 1991 e 1997.

A segunda visita ao pais foi especial para os mato-grossenses, pois Cuiabá estava entre as dez cidades brasileiras em seu roteiro.

Em 1991 recebeu o título de cidadão cuiabano.

Passados mais de trinta anos desde aquele encontro nas ruas de Cuiabá, ainda sinto a mesma emoção daquela manhã calorenta.

Não podia acreditar no que via. Católico, apostólico e romano, sempre vi o Papa como uma figura celestial, que vivia no reino dos céus.

Vê-lo em Cuiabá parecia impossível — o mesmo que surgia na janela de seus aposentos em Roma para abençoar os fiéis.

Sua morte nos lembra: ele era humano.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado