EMANUEL FILARTIGA

Silêncio Sagrado

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Silêncio Sagrado

Sempre me disseram que eu precisava aprender a falar. Poucas vezes, que eu precisava aprender a ouvir.

Simone Weil afirmou que a atenção, em sua forma mais pura, é oração. E eu pude ver isso em algumas pessoas.

Um olhar profundo e desinteressado — aquele que se volta inteiramente para o outro, para o mundo, para a vida. Um momento que revela uma presença inteira, um silêncio interior, uma entrega sem ego. E, acima de tudo, uma abertura para o mistério. Porque, claro, atenção sem sentimento é apenas registro.

Escutar é complicado, sutil e manso. Essa forma de atenção é rara e preciosa. É um gesto de humildade e reverência — por isso, tão difícil.

Somos orgulhosos. E o orgulho é um aperto: uma rigidez interior, uma tensão que nos fecha ao outro e ao mistério da vida. Ao orgulhoso, falta a graça — em todos os sentidos.

Vivemos como se fôssemos inteiros e isolados, cada um como um país fechado, imune ao tempo e às transformações. Mas essa certeza é um erro. Somos feitos de encontros, de perdas, de afetos que nos atravessam. O ego, que julgamos eterno, é apenas uma construção frágil, que se desfaz no silêncio, na dor, na escuta. Somos parte de um todo, e nossa verdadeira essência está na impermanência e na comunhão.

A alma ora naturalmente, sem necessidade de palavras, rituais ou fórmulas. É expressão autêntica e espontânea do ser interior — uma conexão com o que há de mais elevado em nós. E é aí que reside a atenção. Por isso, Malebranche disse que a atenção é a prece natural da alma.

Para sentir plenamente o curso da vida através de nós, é necessário sermos amigos da nossa própria atenção. Ouvir verdadeiramente é permitir que o outro exista em nós. É um estado de comunhão com a vida. Um silêncio cheio de sentidos. Um gesto de cuidado e compaixão. Lembre-se, Amigo Leitor, uma oração não serve para “convencer” Deus a fazer algo diferente, mas sim para transformar o coração e a consciência de quem ora.

Emanuel Filartiga Escalante Ribeiro é promotor de Justiça em Mato Grosso