O domingo é o dia em que mais penso na segunda-feira. É um passeio por promessas adiadas, planos reprogramados e o sentimento recorrente de um recomeço forçado.
A carga de serviço da segunda-feira é sempre enorme, e desejamos limpar a agenda sobrecarregada.
Por maiores que sejam nossos esforços, acabamos adiando parte dos compromissos para a semana seguinte.
E a segunda-feira torna-se, assim, um dia sem palavra.
Os demais dias da semana são semelhantes em seus propósitos, mas não nos cobram tanto.
Qual é, afinal, a diferença com a segunda-feira?.
Seria o descanso do domingo, quando poderíamos ter resolvido pendências de semanas, mas preferimos não fazê-lo?.
Ou seria a velha tradição de que todo recomeço é difícil?.
A verdade é que existe uma certa má vontade generalizada em relação a esse dia, e ele acaba contaminando, em parte, os outros dias da semana.
Como disse, a segunda tem cheiro de recomeço — de tarefas que deixamos para depois.
Os outros dias começam pela manhã e terminam à noite, mas não despertam em nós esse incômodo de um recomeço forçado.
Praticar esportes logo cedo, ir à praia, para tomar sol, namorar — tudo parece preguiçoso na segunda, que tem cara de trabalho.
Quando estudante, escolhi a segunda-feira para o plantão de 24 horas numa Maternidade.
Com essa estratégia, minha semana começava na terça — e meus remorsos pelas promessas não cumpridas desapareciam.
Até no Carnaval, a segunda-feira é um dia negligenciado.
O sábado — início da folia — é chamado de ‘Sábado Gordo’ e a terça, derradeiro dia, é a preferida dos foliões.
Já a segunda é um dia morno para se brincar.
Na Semana Santa, a Sexta-Maior, o Sábado de Aleluia e o Domingo de Páscoa são reverenciados.
Nem jejum os católicos costumam fazer na segunda-feira santa.
É por essas e outras que a segunda-feira é com justiça chamada de ‘dia de tratante’.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado