GABRIEL NOVIS NEVES

Segunda-feira, de novo?

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Segunda-feira, de novo?

O domingo é o dia em que mais penso na segunda-feira. É um passeio por promessas adiadas, planos reprogramados e o sentimento recorrente de um recomeço forçado.

A carga de serviço da segunda-feira é sempre enorme, e desejamos limpar a agenda sobrecarregada.

Por maiores que sejam nossos esforços, acabamos adiando parte dos compromissos para a semana seguinte.

E a segunda-feira torna-se, assim, um dia sem palavra.

Os demais dias da semana são semelhantes em seus propósitos, mas não nos cobram tanto.

Qual é, afinal, a diferença com a segunda-feira?.

Seria o descanso do domingo, quando poderíamos ter resolvido pendências de semanas, mas preferimos não fazê-lo?.

Ou seria a velha tradição de que todo recomeço é difícil?.

A verdade é que existe uma certa má vontade generalizada em relação a esse dia, e ele acaba contaminando, em parte, os outros dias da semana.

Como disse, a segunda tem cheiro de recomeço — de tarefas que deixamos para depois.

Os outros dias começam pela manhã e terminam à noite, mas não despertam em nós esse incômodo de um recomeço forçado.

Praticar esportes logo cedo, ir à praia, para tomar sol, namorar — tudo parece preguiçoso na segunda, que tem cara de trabalho.

Quando estudante, escolhi a segunda-feira para o plantão de 24 horas numa Maternidade.

Com essa estratégia, minha semana começava na terça — e meus remorsos pelas promessas não cumpridas desapareciam.

Até no Carnaval, a segunda-feira é um dia negligenciado.

O sábado — início da folia — é chamado de ‘Sábado Gordo’ e a terça, derradeiro dia, é a preferida dos foliões.

Já a segunda é um dia morno para se brincar.

Na Semana Santa, a Sexta-Maior, o Sábado de Aleluia e o Domingo de Páscoa são reverenciados.

Nem jejum os católicos costumam fazer na segunda-feira santa.

É por essas e outras que a segunda-feira é com justiça chamada de ‘dia de tratante’.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado