Na maioria dos países europeus, as instituições públicas são suficientemente sólidas para permitir que governos com tendências direitistas se alternem com outros com vieses de esquerda, sem comprometer o bem maior que é a liberdade política do povo.
Como a democracia é uma condição gerada pelo cultivo incessante da tolerância, ela tem dificuldade de conviver com os radicais, pois estes maquinam dia e noite o “cancelamento” ou eliminação dos que pensam diferente.
O que garante o equilíbrio das sociedades não são as pessoas, pois estas são efêmeras, o que realmente conta são as instituições que elas fundaram e que o tempo aprimora.
Essas organizações são ferramentas que precisam ser eticamente forjadas e amadurecidas por longo tempo, até adquirirem uma têmpera tal, que não possam mais ser rompidas por eventuais aventureiros.
Os países que “deram certo” são aqueles que durante décadas e séculos valorizaram suas instituições, impedindo que elas fossem atacadas ou desprestigiadas. Há um detalhe importantíssimo, países podem copiar o sistema tributário de outro mais desenvolvido, reproduzir seu plano econômico, imitar sua proposta educacional, até se inspirar em suas leis, mas não conseguem igualá-lo.
O que faz uma nação “rica” é a qualidade de suas instituições e elas, definitivamente, não podem ser copiadas.
Nós brasileiros ainda não entendemos a força e a necessidade de valorizarmos nossas instituições. Se a esquerda está no poder, as mais criticadas são as polícias (civil, militar, federal), as forças armadas, o ministério público, o Banco Central, a imprensa.
Quando muda o governo e a direita assume, os vilões passam a ser a universidades, a imprensa (de novo), Ibama, Anvisa e o Supremo Tribunal Federal.
O Congresso Nacional é igualmente atacado pela direita e pela esquerda.
O processo de fortalecimento das entidades públicas brasileiras é essencial para romper o ciclo de desconfiança. Instituições valorizadas geram respeito da população e dão orgulho aos seus servidores e estes passam a defendê-las contra discursos desrespeitosos dos mandatários.
Nós, o povo, bradamos que a Polícia é violenta se um soldado agride um preso; alardeamos que a justiça é corrupta se algum juiz vende a decisão e que o STF é tendencioso se não gostamos de um ministro.
E assim, misturando instituições com pessoas, transferimos para aquelas as desavenças que temos com essas.
Pouquíssimas pessoas sabiam os nomes dos ministros do STF até 2010, por exemplo. Hoje, muitos de nós temos nossos inimigos particulares nessa corte e, o que é pior, estendemos a essa instituição toda a raiva que temos às vezes de um único membro.
Nossas organizações precisam ser defendidas. Por isso, não é possível aceitar a recente intromissão do Trump na nossa justiça. Se a ele não é permitido influir na Suprema Corte americana, como aceitar que considere a democracia brasileira inferior e se meta no STF?
Não se me dá que o Ministro Alexandre de Moraes esteja impedido de ir à Disney abraçar Donald, the Duck (o pato) ou, na Casa Branca, conversar com Donald, the PeaKock (o pavão) o que incomoda é que, definitivamente, um país não pode interferir nas instituições do outro.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor