Tem chegado muita gente no consultório com a mesma angústia e quase sempre a mesma justificativa: “acho que é o estresse”. E eu entendo. Estamos vivendo um tempo em que o cansaço virou rotina e o emocional, muitas vezes, sai caro para o corpo. Mas é justamente por isso que a gente precisa ter muito cuidado antes de colocar tudo na conta do estresse, principalmente quando o assunto é queda de cabelo.
A verdade é que a queda dos fios pode ser um alerta do corpo para várias outras coisas. E não adianta tratar no escuro. Não dá pra começar a cuidar do cabelo sem antes olhar para dentro. É preciso investigar, fazer exames, entender o que está por trás daquele sintoma.
Porque sim, pode ser estresse, mas também pode ser falta de ferro, deficiência de vitamina B12, um distúrbio hormonal, um sangramento ginecológico que a paciente nem sabia que tinha, um problema na tireoide ou até uma alopecia de fundo autoimune. Às vezes, o que parece simples, não é.
Tem ainda as diferentes formas de alopecia, que precisam ser muito bem diferenciadas. Algumas deixam cicatriz no couro cabeludo e causam perda definitiva dos fios. Outras são temporárias e reversíveis. Saber o tipo certo faz toda a diferença no tratamento.
E é aí que entra a tricoscopia, um exame feito diretamente no couro cabeludo, com o dermatoscópio. É ela que nos mostra padrões específicos, sinais precoces de inflamação, rarefação dos fios e nos ajuda a traçar o caminho mais seguro.
Quanto antes o diagnóstico vier, maiores as chances de sucesso. Porque tem muita gente que passa meses tratando o estresse, quando na verdade está com uma anemia silenciosa ou uma alopecia androgenética já avançada.
E o tempo, nesses casos, é precioso. Esperar demais pode significar perda irreversível dos fios.
Não é só uma impressão clínica. Estudos comprovam isso. Um artigo da Journal of the American Academy of Dermatology mostrou que quase um terço dos casos de queda em mulheres que chegaram ao consultório dizendo ser por estresse tinham, na verdade, outras causas detectáveis em exames. E o mais preocupante: quando o diagnóstico certo demora, o resultado do tratamento também piora.
Outra pesquisa da International Journal of Trichology mostrou que a tricoscopia tem mais de 90% de precisão para diferenciar alopecias que deixam ou não cicatriz, o que reforça a importância dessa investigação logo no início.
Claro que o emocional importa. A gente sente na pele, literalmente. Mas nosso corpo é complexo, e a saúde dos fios responde a tudo isso. Reduzir a queda de cabelo apenas ao estresse é ignorar uma série de fatores que podem e devem ser tratados com responsabilidade.
Eu costumo dizer que o diagnóstico não é só um nome técnico. Ele é um ponto de partida. E quando a gente começa com o pé certo, o caminho se torna mais leve, mais eficiente e menos frustrante. Por isso, antes de acreditar que é só o estresse, investigue. Cuidar de verdade é ouvir o corpo com atenção e não pular etapas. Porque cada fio que cai pode estar querendo dizer algo que vai muito além do que os olhos veem.
Cíntia Procópio é dermatologista, especialista em rejuvenescimento com naturalidade. CRM: 5156 / RQE 2711