GABRIEL NOVIS NEVES

Promessas de segunda-feira

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Promessas de segunda-feira

Escrevo em uma segunda-feira, dia do casamento dos meus pais, em 1934 —Olyntho Neves-Irene Novis —, e estou com uma série de promessas para cumprir.

Por que somos assim?.

Mal a semana começa e já deixamos uma lista de afazeres para a próxima segunda-feira, sabendo, no íntimo, que não iremos cumpri-los.  

Adiamos nossos compromissos para a segunda seguinte — especialmente os relacionados ao tratamento dentário.

Não sei de quem herdamos esse hábito: dos colonizadores portugueses ou dos escravizados africanos.

A segunda-feira ficou conhecida como o ‘dia da preguiça’ talvez por ser o dia das promessas não realizadas.

O tempo custa a passar, o humor anda escasso, e todos pensam no próximo final da semana.

Apesar de ter sido criado sob essa ideologia, desafiei a fama da segunda-feira — e me dei muito bem.

Casei-me numa segunda-feira, às 18horas de um horário de verão, em 9 de dezembro de 1963, na Igreja Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro — e fui muito feliz.

Meu retorno à cidade natal foi numa sexta-feira, para deixar para a segunda as tarefas que não conseguiria cumprir. Eram tantas!

Embora a segunda-feira tenha ares de mentirosa e preguiçosa, comigo ela sempre funcionou como dia de tarefas cumpridas.

Hoje é segunda, e já consegui realizar uma série de pendência da semana.

Talvez esse costume venha dos povos que Cabral encontrou por aqui, e que só trabalhavam o essencial — pesca, caça e agricultura rudimentar — para sobreviver.

Basta um pulo no Parque Nacional do Xingu para entender o que digo.

Não há unanimidade quanto aos dias da semana.

Há os alegres, os de descanso, os preguiçosos e os dedicados ao trabalho.

Tudo isso na teoria — pois tudo depende da nossa cultura.

Muitos ainda ‘sofrem para quebrar a preguiça das segundas-feiras’, e as receitas são as mais variadas.

Quanto a mim, vou aguardar a próxima segunda para resolver os meus problemas — de todas as ordens.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado