CLAITON CAVALCANTE

Porque as palavras ficam

· 2 minutos de leitura
Porque as palavras ficam

Há quem diga que escrever não serve para nada. Que artigos de opinião, publicados em jornais, sites ou revistas, se perdem como folhas levadas pelo vento. Eu não consigo concordar com isso. Fico triste ao ouvir tais palavras, porque elas diminuem não apenas o ato de escrever, mas também o sentido de existir em sociedade.

Escrever é resistir ao esquecimento. É dizer ao mundo: “eu estive aqui, eu vi, eu senti, eu pensei”. Cada texto publicado é uma marca, uma chama que se acende e continua iluminando, mesmo quando quem escreveu já não está mais presente.

Palavras, quando impressas, quando lançadas ao espaço público, não morrem. Elas ganham vida própria. Atravessam décadas, séculos. São testemunhas de um tempo, retratos de uma alma, espelhos de uma sociedade.

No meu livro, cito Bertrand Russell, o profeta da vida racional, que dizia: “é importante aprender a não se aborrecer com opiniões diferentes das suas, mas dispor-se a trabalhar para entender como elas surgiram”.

Ademais, criticar o que já está pronto é fácil. Difícil é começar do zero, carregando a incerteza do sucesso.

O maior livro profético da Bíblia nos lembra: “A erva seca, e a flor cai, mas a palavra do nosso Deus permanece para sempre” (Isaías 40:8). As palavras e pensamentos, quando escritos, tornam-se memória que resiste ao tempo.

Os que criticam a escrita talvez não compreendam sua verdadeira dimensão. Um artigo não é apenas uma opinião passageira. É a tradução de um instante vivido, de um olhar sobre o mundo, de uma sensibilidade que se recusou a ficar calada.

Quem escreve, eterniza. Quem escreve, contraria egos. Quem escreve, planta sementes invisíveis que podem germinar na mente e no coração de alguém daqui a 10, 20 ou 50 anos.

Dias atrás me perguntaram o que ganho com isso (“isso” como sendo os textos que escrevo). Financeiramente, nada. Influência, menos ainda. Porém, o texto tem o poder de mexer com a opinião de quem lê, e isso já é um ganho, pois retira o leitor da zona de conforto.

Aqueles que desmerecem os textos talvez não percebam que a escrita tem força de permanência maior do que qualquer aplauso imediato. O aplauso se esvai. O texto fica.

Aos bibliófobos, daqui a dezenas de anos, quando alguém abrir um arquivo digital, um jornal amarelado pelo tempo, e ler os textos que escrevemos hoje, vai encontrar ali um retrato fiel do que vivenciamos, sentimos e pensamos naquele contexto da história.

Escrever é um ato de coragem. É recusar-se ao silêncio imposto pelas críticas e pela descrença. Quem escreve não o faz para agradar, mas para deixar algo maior do que si mesmo.

O escritor possui coração e mente leves para aceitar críticas quando suas opiniões são emitidas e, mais ainda, quando essas opiniões contrariam entendimentos diversos. Escrever é tornar-se, inevitavelmente, eterno.

Por isso, continuo acreditando que cada palavra grafada no papel, cada artigo publicado, cada livro lançado, é uma chama acesa contra a escuridão da ignorância e do esquecimento. E, por mais que tentem desmerecer, a escrita permanecerá. Porque escrever é existir duas vezes: no presente e no futuro.

Claiton Cavalcante é contador