LUIZ CARLOS AMORIM

Outono chegou

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Outono chegou

O outono chegou. Por coincidência, peguei um jornal de classificados, outro dia, porque precisava pesquisar algumas coisas, e me surpreendi com o que achei nele: um poema de Quintana. Não é normal encontrarmos poesia em jornal nenhum, quanto mais de classificados. E o poema era de Quintana!

E encontrar um poema já é bom. Encontrar um poema de Quintana, então... Trata-se de Canção de Outono: “O outono toca realejo / No pátio da minha vida. / Velha canção, sempre a mesma, / Sob a vidraça descida... // Tristeza? Encanto? Desejo? / Como é possível sabê-lo? / Um gozo incerto e dorido / De carícia a contrapelo... “ (...)

Então essa meia estação para se chegar à estação inteira, o inverno, é uma transição que eu gosto. Não faz mais aquele calorão infernal do verão e ainda não está aquele friozão de julho – que eu gosto, mas gosto mais do inverno em Portugal, pois é seco e não doem os ossos. Ah, Quintana, meu querido Quintana... Só você, para definir o outono, ainda que eu sinta uma certa melancolia nesses versos. Mas outono é isso mesmo, é transição, é a estação da indefinição ou da espera da definição que se dará logo adiante. O outono é a antessala do inverno, é quando a gente vai se preparando para o frio que vai chegar.

O outono tem dias cinzentos, outros nem tanto. No final da estação, algumas folhas começam a cair, mas também é quando as flores do jacatirão começam a desabrochar, abrindo brancas e tomando cor à medida que vão se abrindo, num degradê belíssimo, até chegar ao vinho.

“O outono toca realejo no pátio da minha vida”. Sim, há música no outono, também. Os passarinhos vêm cantar no meu telhado, no meu jardim, na minha janela. “Tristeza, encanto?” Eu diria encanto, poeta. Uma carícia, sim, um encanto. Como o seu poema.

Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, completando 45 anos de trajetória em 2025, editor das revistas SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA e ESCRITORES DO BRASIL, Cadeira 19 na Academia Sulbrasileira de Letras e cadeira 19 da Academia Desterrense de Letras