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Opinião

ONOFRE RIBEIRO – Desvios públicos, gestões, eleição

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Não pretendo neste artigo falar de desvios do dinheiro público. Seria o mesmo que chover no molhado. Rotina. Das mais rotineiras desviar o dinheiro público sem pudor. É cultural e impune. Tem todo um sistema montado nessa direção que termina numa saudável conduta de impunidade de um morno judiciário brasileiro que se beneficia da conduta torta de proteger quem não deveria jamais ser protegido.

A isso se poderia chamar de “proteção cruzada”. Perder tempo mencionar isso aqui. Legislativo protege o Judiciário. E vice-versa. No meio navega-se com bilhões na cueca, etc. etc…

Gostaria mesmo de falar sobre os desvios de conduta política no sentido do desvirtuamento em relação ao espírito da sociedade.

Nesse sentido, gradualmente a gestão pública tornou-se canal do encaminhamento dos interesses de poder político. Importante chegar ao topo do poder. Daí por diante o jogo é a manutenção do poder de manipulação absoluta.

Até 1965 no país havia 13 partidos políticos alinhados com os interesses da sociedade ou com as linhas do pensamento existentes na época. O presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, através do Ato Institucional nr.2 extinguiu todos os partidos numa canetada só. E criou dois: um de apoio ao governo militar, a Arena, e outro de oposição, o MDB. Ambos extintos em 1979.

Tanto a Arena quanto o MDB eram correntes partidárias que acobertavam as correntes de todos os partidos anteriores.  Quando da extinção deles, as correntes tornaram-se partidos menores e começou uma grande reformulação de partidos no país, a partir de 1979.

Foi a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997 quem desvirtuou toda essa organização partidária e produziu o confusão que virou.

Nessa confusão, o objetivo da política passou a ser a obtenção do poder político para a manipulação dos interesses mais loucos sob a tutela do dinheiro e dos orçamentos públicos em todos os níveis,

A possiblidade de coligações amplas em todos os níveis, permitiu o agrupamento dos interesses em grupos partidários na busca exclusiva do poder político.

Antes, no tempo dos partidos pré-1967 e depois de 1979, os partidos organizavam as disputas, os disputantes e controlavam os projetos políticos. Depois das coligações a partir de 1997, não há mais partidos. Há agrupamentos de mandatos.

Sem liderança. Cada parlamentar ou partidário, é dono do seu mandato e dos seus projetos pessoais. No máximo de alguns projetos maiores dos interesses dos grupos.

Em síntese, a política partidária brasileira não chega a ser uma política de Estado. Mas é uma política de grupos. Com interesses de grupos.    Para as eleições de 2022, vão as federações, que são agrupamentos de grupos sob a denominação de partidos. Não há e não haverá projeto nacional. Haverá o projeto da próxima e depois da próxima eleição e do poder que elas trarão.

Assim fica fácil de entender a confusão que caminha para as eleições de outubro próximo. A polarização extrema que vivemos hoje no país é o exato fruto da falta de partidos políticos comprometidos com as causas nacionais.

Pelo andar da carruagem será uma eleição mais suicida do que construtiva. Porém, os próximos quatro anos marcarão o início de uma reconstrução ainda que lenta. Mas absolutamente necessárias e inevitáveis. Caminharão fiscalizando, dois países. Um Brasil da política disfuncional em vigor.

Outro, da sociedade, que aos poucos cansou-se das manipulações.  O próximo mandato será extremamente didático para ordenar a política de agora. E uma porta pro futuro conduzido pela sociedade.  Chega desses cartéis exploradores do poder político.

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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