Parece que foi ontem, mas em 21 de abril de 1960, nascia Brasília. Hoje, tendo completado 65 anos, a capital da República Federativa do Brasil superou, e muito, aos anseios do Marquês de Pombal, que em 1761 foi o primeiro cidadão na face da terra a sugerir a interiorização da capital do império português. De lá para cá, tivemos missões, comissões, estudos e é claro muito política.
A primeira comissão por exemplo foi em 1891, chefiada pelo astrônomo Luis Cruls, que tinha a missão de explorar a topografia, o relevo, a fauna e a flora do planalto central do Brasil, uma região que era povoada por grandes fazendas, e com intensa rota de mineração, surgiu o Quadrilátero Cruls. E como em toda comissão, 3 longos anos depois, em 1894, após muita discussão, desentendimento e alguns acordos, foi entregue o relatório designando a região como Vera Cruz.
Hoje Brasília é a 3ª maior cidade do País, com 3 milhões de habitantes, abriga as sedes administrativas da estrutura do governo federal, tem um intenso turismo, e é claro, assim como começou em 1761, aqui no quadradinho se faz muita política. Imaginem Juscelino Kubitschek, o então presidente do Brasil negociando onde seriam as regiões administrativas do DF, ou os setores hoteleiros, ou até mesmo a esplanada, com seus arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Mas o fato é que entre a Asa Sul e a Asa Norte eles construíram uma grande cidade, moderna, com avenidas largas e condições para abrigar toda a estrutura da república nacional, que agora sairia do Rio de Janeiro para o planalto central após uma verdadeira corrida rumo ao desenvolvimento, afinal Brasília era a terra das oportunidades, vieram os trabalhadores, as empresas, as empreiteiras, os prestadores de serviço.
Tudo bem Brasília foi cuidadosamente pensado para fornecer toda a estrutura necessária para o bom desempenho das atribuições públicas. Ao longo do eixo central vieram a Basílica Nacional, a biblioteca, o museu. Ainda vieram os ministérios, dispostos lado a lado para demonstrar que todos seriam iguais.
O Congresso Nacional abrigando a câmara dos deputados e o senado da república, temos o poder legislativo. Bem próximo dali fica o Palácio do Planalto, a sede do poder executivo, e do outro lado da praça, o Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte do poder judiciário.
É a praça dos 3 poderes, cuidadosamente colocados próximos uns dos outros mandando uma mensagem clara, é aqui se toma as decisões do Brasil, e que os 3 poderes deveriam trabalhar em harmonia, ou seja, cada um no seu quadrado.
Mas parece que esqueceram de combinar com os russos!
O que se vê nos dias de hoje é um verdadeiro show de desequilíbrio.
Os ministérios, cuidadosamente dispostos lado a lado, não interagem entre eles. O resultado disso, políticas públicas desconectas, que não geram o impacto desejado e necessário para o cidadão. No congresso nacional, os projetos de leis são debatidos à exaustão, passam por comissões e por votações que na maioria das vezes levam anos. No palácio do planalto, as medidas executivas são tomadas e que em determinados momentos estão em rota de colisão com as leis aprovadas do outro lado da praça.
Aliás, basta atravessar a praça para invocar a participação do judiciário no processo, dizendo quem tem razão, se o executivo ou o legislativo. Ninguém ganha, mas certamente o cidadão perde.
Vamos criar uma comissão?.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria