GABRIEL NOVIS NEVES

O pregão do vendedor de rua

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O pregão do vendedor de rua

Cada vez mais rara está aquela atividade comercial do vendedor de rua, que usava o eco da própria voz para oferecer frutas, verduras, doces e anunciar novidades.

Tudo sempre com preços reduzidos.

Esse eco animava e dava vida às manhãs cuiabanas.

Era um verdadeiro trabalho de camelô ambulante.

No bairro onde mora a enfermeira que cuida de mim, ainda é comum ouvir esse chamado.

Hoje quem faz o pregão, geralmente vem em uma caminhonete abarrotada de produtos, muito diferente do antigo ambulante que carregava a mercadoria nos ombros e ia de casa em casa.

O pregão de outrora fazia parte da paisagem: a voz forte atravessava as ruas, e moradores saiam às portas e janelas para interagir com o locutor improvisado.

Hoje só resiste nas periferias das grandes cidades — e se resiste, é porque ainda dá sustento a quem o pratica.

A vida nas pequenas cidades e nos bairros afastados é mais simples, mais próxima da essência, mais agradável que a pressa e o ruído das metrópoles.

O homem, desde sempre, inventa maneiras criativas de sobreviver, e uma das mais antigos é o comércio.

Povos, como libaneses e judeus, mestres nessa arte de negociar, espalharam-se pelo mundo.

Chegaram a Cuiabá no início do século XX, ocuparam o centro histórico e foram, em grande parte, responsáveis pelo desenvolvimento da cidade.

Seus filhos hoje estão em todas as áreas: no comércio e, sobretudo, nas profissões ligadas à saúde como destaque para as especialidades médicas.

E assim como o pregão das frutas, também surgiram os modernos pregões, da medicina: mutirões que, em regiões sem especialistas, reúnem multidões nos finais de semana para serem atendidas.

O chamamento é feito por alto falantes instalados em velhas ximbicas, ecoando como outrora.

O pregão é uma das mais manifestações humanas de trabalho.

Jamais será extinto.

Enquanto houver homens e mulheres, haverá comércio — com ou sem pregão.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT  e ex-secretário de Estado