REJANE MONGE

O Natal na Avenida Couto Magalhães

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O Natal na Avenida Couto Magalhães

Não tenho pretensão de que este texto seja visitado como fonte de dados históricos sobre a avenida Couto Magalhães. Várzea Grande merece ter seu legado eternizado por alguém bem mais capacitado para essa função. Entretanto, coloco aqui um pouco daquilo que ainda permeia minhas memórias da infância.

Meus saudosos avós, André e Ana Amorim, residiam em uma casa na Couto, como carinhosamente ainda nos referimos a avenida. O terreno corta a quadra e o quintal termina na travessa Alfredo Maciel de Oliveira.

Algumas das minhas lembranças mais especiais são das festas de Natal. A família grande, a movimentação na casa, o barulho das crianças. Os preparativos da ceia, mulheres enfeitando a casa, homens preparando o churrasco. Parentes e amigos da família faziam como que um rodízio de visitas nos dias festivos.

No quintal, muitas mangueiras, pitombeiras, abacateiros e outras plantas, davam um ar de natureza em pleno centro da cidade. As pessoas e conversas se espalhavam pelo terreno sombreado, misturados a música e risos.

Na véspera do Natal aumentava a expectativa da criançada pelos presentes. Missa do Galo na televisão. Em determinado momento parecia que todos os vizinhos, que ainda eram muitos naquela época, saiam para confraternizarem nas portas das residências.

No dia do almoço de Natal a casa estava cheia novamente, alguns nem tinham ido embora na noite anterior. Era uma festa.

Uma coisa que me intrigava, já naquele tempo, era ver as pessoas que perambulavam sem rumo pelas ruas. Eu não conseguia entender como alguém podia passar uma data tão especial longe de sua família. Ingenuidade de criança.

Lembro-me que alguns deles paravam na porta da casa pedindo um prato de comida, e que saíam de lá com uma ceia completa. Comidas, talheres, refrigerantes e até sobremesa seguiam para caminhos desconhecidos. Eu olhava, meio de longe, o agradecimento daquelas figuras que agora teriam seu almoço de Natal.

Talvez o sentido dessa data tão importante tenha se formado em mim, também através desses acontecimentos. Há mais de dois mil anos, uma família vagava a procura de um lugar onde o menino Jesus pudesse nascer. Cresci acreditando que naqueles andarilhos que pediam comida, havia um pouquinho do espírito do Natal pedindo para entrar na casa da Avenida Couto Magalhães.

Rejane Monge é nutricionista formada pela UFMT e servidora pública do Estado