Depois dos 40 anos, muitas mulheres chegam ao consultório relatando mudanças que parecem pequenas no início, mas que, somadas, começam a pesar no dia a dia. O corpo parece mais sensível, a pele resseca com facilidade, as infecções íntimas aparecem com mais frequência, o humor oscila, a digestão já não é mais a mesma.
Durante muito tempo, atribuímos tudo isso apenas às oscilações hormonais. Mas a ciência nos mostra que existe um outro protagonista silencioso nessa história: o microbioma, tanto o que vive no intestino quanto o que habita a região íntima.
Essas comunidades microscópicas sempre estiveram conosco, mas só recentemente aprendemos a reconhecer a força que têm. Pesquisas mostram que, após a menopausa, a flora intestinal sofre alterações que podem aumentar processos inflamatórios e influenciar diretamente a saúde óssea, metabólica e até o equilíbrio do peso.
No caso da flora vaginal, a redução das bactérias protetoras, como os lactobacilos, modifica o pH natural, deixando a mucosa mais vulnerável ao ressecamento, ao desconforto e às infecções.
O mais fascinante é perceber como um equilíbrio tão invisível pode determinar tanto do que sentimos. Estudos internacionais, publicados em revistas científicas de referência, vêm reforçando esse elo. Eles apontam que cuidar do microbioma não é um detalhe, mas parte essencial do bem-estar feminino.
Isso significa que pequenas escolhas diárias, como priorizar uma alimentação rica em fibras, incluir frutas, verduras, cereais integrais e até alimentos fermentados, fazem diferença. O uso criterioso de probióticos, aliado a hábitos simples como manter-se hidratada e reduzir o estresse, também contribui para a vitalidade desse ecossistema.
Como médica, vejo com frequência a surpresa das minhas pacientes quando entendem que aquela constipação persistente, a queda da energia ou as infecções recorrentes podem ter uma mesma origem. Quando cuidamos do microbioma, não tratamos apenas um sintoma, mas oferecemos ao corpo um cuidado integral, que repercute em várias áreas ao mesmo tempo.
Envelhecer é inevitável, mas a forma como vivemos essa fase é resultado de escolhas conscientes. Ao olhar para dentro — para esse universo microscópico que trabalha em silêncio por nós — descobrimos que saúde não se resume a exames ou medicações, mas também à forma como nutrimos e respeitamos nosso próprio corpo. E talvez seja justamente aí que está o segredo para viver os anos após os 40 com mais leveza, vitalidade e autonomia.
Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade feminina