A cirurgia bariátrica costuma ser associada à perda de peso, à melhora da saúde física e à conquista de uma nova qualidade de vida. Mas há uma parte desse processo que nem sempre é visível, nem discutida: o luto pelo corpo antigo.
Sim, ele existe. E, ao contrário do que muitos imaginam, não é vaidade ou insegurança. É um sentimento legítimo, vivido por muitos pacientes no pós-operatório, especialmente à medida que o espelho começa a refletir uma nova imagem corporal — e a mente ainda está tentando acompanhá-la.
A imagem corporal está profundamente ligada à nossa identidade, à forma como nos reconhecemos e nos apresentamos ao mundo. Quando o corpo muda de forma drástica em pouco tempo, o cérebro pode ter dificuldade em processar essas transformações. A roupa que antes vestia como armadura já não serve. O rosto afina, o contorno muda, o olhar do outro também. E surge a sensação de estranhamento.
É comum ouvir de pacientes bariátricos frases como:
- “Sei que emagreci, mas ainda me vejo como antes.”
- “As pessoas me tratam diferente e não sei como reagir.”
- “Sinto saudade do meu corpo de antes, mesmo com as limitações que ele me trazia.”
Esse tipo de vivência pode gerar sentimentos de confusão, ansiedade e até tristeza. É aí que entra o luto do corpo antigo: um processo de despedida da imagem que, por anos, foi parte de quem a pessoa é — mesmo que estivesse ligada ao sofrimento.
Trabalhar esse luto é parte essencial da transformação
A psicologia tem um papel fundamental nesse momento. O acompanhamento terapêutico permite que o paciente compreenda o que está sentindo, valide suas emoções e construa uma nova relação consigo mesmo.
Trabalhar o luto do corpo antigo é, também, criar espaço para aceitar e acolher a nova versão de si. Não como imposição social ou obrigação estética, mas como parte de um processo de reconstrução da autoestima, da autonomia e do amor-próprio.
Cada corpo tem uma história. E todo processo de mudança merece tempo, cuidado e respeito.
Moriel Nerges é psicóloga com fogo em bariátrica no Centro Médico TGA, em Tangará da Serra (MT)