GABRIEL NOVIS NEVES

O calendário marcado

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O calendário marcado

Tenho em minha casa quatro pequenos calendários de mesa: no meu dormitório, no escritório, no quarto de hospedes e na copa.

Todos apresentam datas circuladas à caneta — algumas memoráveis, outras esquecidas.

Há datas que permanecem circuladas o ano inteiro — são aquelas que, de jeito algum, posso esquecer.

Como exemplo, a data da infusão mensal no hospital, do meu plano de saúde.  

Se eu perder o dia marcado, terei que aguardar o mês seguinte para a aplicação.

O procedimento é demorado, e se, por acaso, eu chegar ao centro de infusão às dez da manhã, perco a vez.

E a fila é longa.

Fico atento às datas circulares do calendário, para não comprometer o meu tratamento mensal de reposição de imunoglobulinas.

Como pertenço a uma família numerosa, os calendários estão repletos de aniversários — datas que jamais posso esquecer.

As datas memoráveis — também circulares — referem-se as bodas de casamentos, colações de grau, viagens de férias.

As rotineiras, com seus prazos de vencimento, incluem o carnê leão, o IPTU, o condomínio e mais uma dezena de compromissos.

Para não ser multado, vivo diante do calendário, prestando atenção aos vencimentos dessa burocracia que parece ter sido feita para nos atordoar.

O calendário é tão importante em nossas vidas, que acabou absorvido pelas modernas tecnologias!.

Hoje o encontramos no celular, no computador na televisão.

Antigamente, existia no Rio de Janeiro a Rádio Relógio, fundada em 1956 por César Ladeira, que se tornou seu diretor.

Sua programação era completamente diferente das demais emissoras do Rio.

A cada minuto atualizava a hora sincronizada com o Observatório Nacional, anunciando com exatidão as horas, minutos e segundos.

Ao fundo ouvia-se o barulho do tic-tac de um relógio.

Fiquei sabendo da sua existência porque um dos seus jovens locutores morador na minha pensão, na rua Marques de Abrantes, e trabalhava lá.

Até hoje ela existe — e é muito ouvida.

Como é importante um velho calendário em nossas casas.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado