GABRIEL NOVIS NEVES

O cachorro do vizinho

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O  cachorro do vizinho

Meus pais nunca tiveram o hábito de criar animais em casa, como cachorros, gatos.

Ao retornar à minha cidade natal para exercer a Medicina, mantive-me afastado desses animais durante os primeiros dez anos.

Certa ocasião, após um plantão de sábado na antiga Maternidade de Cuiabá, fui convencido pelo casal de colegas Loureiro Borba a ficar, ao menos, com um dos filhotes da cadela de raça deles, que havia dado à luz oito machos.

Disseram-me que seria bom para o desenvolvimento psicológico dos meus dois meninos.

Cheguei à casa da rua Major Gama, no Porto, com o pequeno presente.

Minha mulher não opinou, tampouco minha filha.

Os meninos levaram o cachorrinho recém-nascido para o quarto deles.

Dormia na cama com eles.

Cresceu rápido e tornou-se um grande animal, totalmente domesticado.

Com o tempo, passou a estranhar pessoas.

O cachorro era como irmão para os meus filhos.

Às vezes, encontrava a porta da rua aberta e fugia, colocando em risco a integridade física de quem passasse.

Eu tive receio das carícias dele, enquanto meus meninos enfiavam a mão dentro de sua boca.

Com a idade, faleceu — e os meninos sofreram muito.

Meu filho mais velho casou-se cedo e sempre teve cachorros em casa.

Hoje, cria três em seu apartamento — tratados como filhos.

Já o caçula abandonou a companhia dos cães.

No edifício onde moro alguns vizinhos criam cachorros em seus apartamentos, o que costuma causar problemas ao síndico.

Do meu apartamento, ouço latidos do cachorro do vizinho para o nada.

Talvez estejam pedindo aos donos o necessário passeio pelas calçadas da quadra.

Há quem diga que o cachorro é o melhor amigo do homem.

E, em nome dessa amizade, muitos arranjam inimizades por conta das necessidades biológicas dos seus bichos.

Os animais deveriam ser criados em contato com a natureza — e não presos em gaiolas.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado