EMANUEL FILARTIGA

No meio do medo está a coragem

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No meio do medo está a coragem

Por algum tempo esqueço do medo quando estou com Maria e Miguel. Os olhos novos têm muito a ensinar a estes olhos velhos. A imaginação é a casa da verdade.

Mas logo tenho com o medo, nas visitas, nas conversas, em acontecimentos vividos; nos olhos, nas mãos e bocas das pessoas que nos visitam. Como é desencorajadora a cara do medo - parece gritar pedindo socorro, mas não grita. Contudo não há outro caminho senão enfrentá-lo, mesmo que fora de mim.

Somos viajantes, amigo leitor!. Algumas viagens nos assustam. Muitos estão visivelmente temerosos. Os olhos velhos percebem rápido. As pessoas próximas também. Só eles dizem que não estão.

Dizem que não se sentem bem. Que a viagem não é necessária. Que há outro jeito de ir. Que vai chover. Que já é tarde. Que estão cansados. Que já fizeram muito. 

Mas se alguém, mesmo com delicadeza, ousar sugerir que eles não querem ir porque têm medo. Ouviremos gritos de protesto, ofensas e justificativas inflamadas. Talvez seja preciso até recuar, para preservar a amizade, talvez, até elogiar sua coragem de não querer ir.

É o medo. Essa é sua motivação real. Ele se disfarça de razão, de prudência, de lógica. Procura corajosas racionalizações. Mas o medo é um tremor dentro da gente. Ele inibe as pessoas nas ações e nas vivências. Perturba os sentidos. 

Não há gente acima do medo, ninguém pode se gabar de a ele escapar. O medo nasceu com a gente. Está em nós, vai com a gente por toda a nossa existência. Não ter medo! Isso nada tem a ver com a coragem. Esta é sim grudada no medo, uma coisa está dentro da outra. A coragem é uma espécie de salvação, disse Platão. 

O medo alerta sobre os perigos do viver e a coragem faz viver. A vida é para esse sarro de medo se destruir, a vida quer da gente coragem!. (G.R).

 Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso