O Natal é o grande mistério do amor de Deus que se faz próximo. Em Jesus, o Menino Deus que nasce em Belém, o céu toca a terra e nos recorda que a vida sempre pode recomeçar. Celebrar o Natal é acolher essa certeza: Deus entra na história humana não com armas ou imposições, mas com a fragilidade de uma criança, oferecendo esperança, justiça e paz.
Num mundo marcado por tensões, feridas abertas e palavras duras, o Natal nos chama a um caminho concreto: viver e exercitar o perdão. Perdoar não é esquecer o que machucou, tampouco negar a dor; é decidir não permitir que o mal tenha a última palavra. O perdão liberta quem o oferece e quem o recebe, rompe ciclos de violência e reconstrói pontes onde antes havia muros. É um gesto profundamente cristão, porque nasce do coração de Cristo, que nos perdoa primeiro.
O Papa Leão XIV nos recorda a urgência de desarmar o coração. “A bondade é desarmante. Talvez por isso Deus se tenha feito criança. O mistério da Encarnação, que tem o seu ponto mais extremo de esvaziamento na descida aos infernos, começa no ventre de uma jovem mãe e manifesta-se na manjedoura de Belém. «Paz na terra», cantam os anjos, anunciando a presença de um Deus indefeso, pelo qual a humanidade só pode descobrir-se amada cuidando d’Ele (cf. Lc 2, 13-14)”.
Portanto, desarmar o coração é depor as defesas que alimentam o orgulho, a indiferença e a vingança; é abrir espaço para a escuta, o diálogo e a misericórdia. Um coração desarmado reconhece suas próprias fragilidades e, por isso, torna-se capaz de acolher o outro. Esse é o caminho do Evangelho: a mansidão que vence a dureza, a humildade que transforma a força em serviço.
Viver o Natal, portanto, não se limita aos símbolos ou às celebrações — tão belas e necessárias —, mas se traduz em atitudes diárias. Começa dentro de casa, nas famílias, quando escolhemos a reconciliação em vez do silêncio rancoroso; passa pelas comunidades, quando praticamos a solidariedade com os mais pobres e feridos; alcança a sociedade, quando trabalhamos pela paz, pela justiça, pela conversão ecológica e pelo cuidado com a vida, pela ecologia integral, como caminho de união.
Que o Natal do Senhor nos ajude a desarmar o coração, a exercitar o perdão e a reacender a esperança. Que, à luz do Menino Jesus, aprendamos a amar como Ele ama: com simplicidade, coragem e misericórdia. Assim, o Natal continuará acontecendo todos os dias, onde houver um coração aberto e uma vida disposta a recomeçar. Feliz e Santo Natal.
Dom Mário Antônio é arcebispo de Cuiabá