Fui criado em casa de católicos praticantes, mas sem o hábito de reunir a família na noite de Natal para esperar o nascimento do menino Jesus, filho de Maria e José, que veio ao mundo para nos salvar.
O meu pai trabalhava na noite de Natal, e só retornava para casa depois da Missa do Galo, celebrada na Catedral Metropolitana de Cuiabá por Dom Aquino Correa, com o coral dos clérigos salesianos, órgão tocado por Zulmira Canavarros e o soprano de sua filha Maria.
Mamãe ficava em casa cuidando da filharada que dormia cedo.
Naquele tempo fui ensinado a escrever carta ao Papai Noel pedindo presentes.
Minha mãe recolhia as cartas e dizia que na noite do dia 24 ele iria trazer enquanto dormíamos.
Dizia-nos que ele vinha do Céu e entraria pela chaminé da cozinha quando a nossa casa estava fechada, e colocaria nossos pedidos debaixo das nossas camas ou dentro dos sapatos.
Quando meu pai voltava do bar, ele e minha mãe, em voz baixa, colocavam os presentes, com todo cuidado para não nos acordar ou confundir o remetente.
Assim foram as minhas noites de Natal, até eu me casar.
Nunca assisti a uma Missa do Galo e tudo que sabia era por conversas da rua.
Em casa nunca tivemos ceia de Natal, distribuição de presentes e confraternizações.
Minha mulher, católica, sempre reuniu a família, irmãos, sobrinhos, amigos, na ceia da noite de Natal, tradição que passou aos filhos e netos.
Vou passar o Natal na casa da minha filha, com filho, genro, nora, netos, familiares e bisnetos.
Haverá ceia, decoração natalina, troca de presentes, músicas e muita alegria.
Acho tudo tão diferente dos meus tempos de criança, quando acreditávamos em Papai Noel, hoje uma profissão rendosa!.
Sinto-me deslocado no meio da multidão, pois Natal para mim, significava meu pai trabalhando no bar.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado