Fui criado com seis refeições diárias, e na época os moradores da minha cidade seguiam o mesmo exemplo.
Ao acordar, guaraná ralado ou um cafezinho, seguido de café com leite e pão com manteiga.
Às 10 horas, era a merenda, geralmente uma fruta dos quintais.
O almoço acontecia ao meio-dia e consistia apenas no prato principal, rico em proteínas animais e carboidratos.
Naquela época, o cuiabano não gostava de saladas de verduras e legumes.
Apesar do rio Cuiabá ser rico em peixes, a preferência do cuiabano era por carnes bovinas e suínas. A carne de frango caipira era a segunda escolha.
No almoço, o pacu, dourado, matrinxã, pintado, piraputanga, e caldo de piranha eram comuns.
Arroz, feijão mulatinho, macarronada, farofa de vários tipos, batata e banana frita, além de torresmo, nunca faltavam na mesa do cuiabano.
A sobremesa era feita pelas donas de casa, com muito carinho.
Na merenda da tarde, era comum salgadinhos, bolos e suco de frutas caseiras.
No jantar, não podia faltar sopa de macarrão ou de batata-doce, acompanhada de pão francês quentinho.
Meu pai sempre jantava um copo grande de nata de leite e um sanduíche com pão, manteiga, queijo, salaminho e presunto, e a meninada o acompanhava nesse lanche.
A sobremesa era uma xícara de café para os adultos.
O lanche antes de dormir para a garotada, um copo de café com leite e pão francês com manteiga e açúcar.
Quando fui estudar o terceiro grau, adquiri novos hábitos alimentares.
Fui obrigado a me acostumar com as refeições das pensões e do restaurante universitário, onde a comida vinha em bandejões de alumínio, com pequenas divisórias, sobremesa e copo de papel com leite gelado.
Nos plantões dos hospitais, as refeições eram simples, mas a ceia sempre era esperada — galinhada com arroz.
Esses hospitais tinham cantinas terceirizadas, e lá descobri a pizza napolitana, comprada por fatias, e o famoso ‘sanduíche de bauru’.
Quando voltei à minha cidade natal, passei a me alimentar de tudo, exceto peixe cru.
Minhas refeições hoje:
Ao acordar, tomo uma xícara pequena de café quente. Depois, como meio mamão-papaia gelado com colher de sobremesa, e uma xícara de café com leite quente, acompanhada de quatro petas.
Às 10 horas, uma laranja gelada, fatiada e sem caroços, em prato de sobremesa.
No almoço, tenho um prato feito pela cozinheira, começando com uma salada de folhas verdes, rodelas de tomate, palmito, azeitonas verdes, castanhas-do-pará e caju, regadas com azeite, vinagre ou limão.
A sobremesa é uma fruta gelada, que pode ser manga, melancia, melão, fruta-do-conde ou uma salada de frutas.
À tarde, a merenda é maçã ou pera gelada.
No jantar, uma tigela com dois ovos cozidos e temperados com sal, acompanhado de uma xícara de café com leite, pão integral com manteiga, presunto e queijo branco na sanduicheira.
A sobremesa são dez ameixas pretas com caroços.
Antes de dormir, como uma banana-prata.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT