Sou o mais velho de uma família de nove irmãos, e o quarto entre nós demonstrou ser um verdadeiro herói.
Hoje, ele completa oitenta e quatro anos. E, na semana passada venceu aquele tumor temido por todos.
A vida hospitalar nos ensina a valorizar as pequenas coisas, que se tornam verdadeiros troféus no pós-operatório — especialmente quando se trata de intestino.
Só então percebemos a importância do simples funcionamento do corpo.
A família aplaudiu como se fosse a conquista de uma Copa do Mundo!
Foi o grande assunto do último domingo, seis dias após uma anastomose intestinal.
Cirurgia. Um dia na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Sonda nasogástrica. Alimentação venosa por soro, sempre gotejando na veia escolhida.
Os primeiros passos no quarto, apoiando-se na enfermeira.
A fisioterapia, com o levantamento de pequenos pesos. Caminhadas pelo corredor do hospital.
E, finalmente, o intestino funcionou — momento aguardado por todos.
Sem fístula. Sem infecção.
Nosso herói passará seu aniversário em casa, olhando a bela praia de Icaraí.
Tudo tão simples, mas frequentemente nos perdemos na materialização do mundo e deixamos de valorizar o essencial.
Trabalhamos irracionalmente para acumular dinheiro e, depois, procuramos um lugar distante para admirar a natureza.
Esquecemos da maravilha que é simplesmente estar bem — hoje, amanhã e nos anos que virão.
Acordar disposto. Passar o dia escrevendo, no caso dos idosos. Dormir e não sonhar, porque o melhor é sonhar acordado.
Ter um olhar que se perde entre montanhas, florestas e praias das mais belas e famosas do mundo.
E observar mulheres bonitas que caminham com o corpo no balanço de uma canção.
Tenho tempo para valorizar uma conversa interessante, mesmo pelo celular. E tento me conformar por não mais namorar —ainda que continue procurando.
Tenho que dar graças a Deus pela vida que Ele me concede.
E pedir saúde para o meu irmão, com seus oitenta e quatro anos bem vividos.
Vamos ficar juntos por muito tempo ainda, se Ele quiser.
Parabéns, meu irmão de nome difícil, fruto da criatividade da minha mãe – INON.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT
