BRUNA GHETTI

Menopausa precoce: o silêncio que adoece mulheres antes da hora

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Menopausa precoce: o silêncio que adoece mulheres antes da hora

Por muito tempo, a menopausa foi vista como um capítulo distante, quase reservado para a casa dos 50. Mas a verdade é que muitas mulheres cruzam essa fronteira bem antes, algumas aos 45, outras aos 40 e, em certos casos, até antes dos 35 anos. Chama-se menopausa precoce. O mais preocupante é que ela não chega de repente: dá sinais sutis, muitas vezes ignorados ou confundidos com estresse, excesso de trabalho ou simples fase da vida.

No consultório, não é raro ouvir relatos de mulheres jovens que começam a notar ciclos menstruais mais espaçados, ondas de calor discretas, mudanças no humor e, principalmente, alterações na saúde íntima: ressecamento, dor nas relações, perda de lubrificação. Esses sinais deveriam acender um alerta, mas quase sempre são minimizados. É comum ouvir um “isso é normal, já estou com mais de 40”, como se a normalidade fosse aceitar o corpo perdendo funções sem procurar entender por quê.

A menopausa precoce não é apenas um detalhe no calendário da fertilidade. Ela impacta a saúde óssea, cardiovascular, metabólica e emocional. O estrogênio, hormônio que começa a faltar antes do tempo, é protetor de vários sistemas do corpo. Sem ele, os riscos de osteoporose, infarto e até depressão aumentam consideravelmente.

E aqui está o ponto que mais me incomoda como médica: o silêncio. Fala-se de anticoncepção, fala-se de fertilidade, mas pouco se fala da vida quando os hormônios declinam cedo demais. Mulheres passam por isso sozinhas, sem diagnóstico, sem acompanhamento, sem orientação sobre reposição hormonal, quando indicada, ou sobre alternativas não hormonais que podem aliviar sintomas e proteger a saúde.

É urgente quebrar esse silêncio. A menopausa precoce não pode ser tratada como um destino ou como azar biológico. Precisa ser diagnosticada, investigada e acompanhada. O papel da medicina é devolver qualidade de vida, não apenas prolongar anos. E o papel da sociedade é parar de reduzir a vida íntima e hormonal da mulher a um tema secundário.

Se começarmos a falar mais sobre isso, talvez menos mulheres precisem carregar a culpa de se sentirem velhas antes da hora. Talvez mais delas encontrem respostas, em vez de justificativas vazias. A menopausa precoce não deveria ser invisível. Invisível é a negligência que ainda a cerca.

Dra. Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade feminina