DAYANE NASCIMENTO

Marketing pessoal: estratégia ou exagero?

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Marketing pessoal: estratégia ou exagero?

Em um mundo onde a visibilidade se tornou moeda social e profissional, o marketing pessoal ganhou um protagonismo antes reservado às grandes marcas. Hoje, médicos, professores, psicólogos, arquitetos, advogados - e até estudantes - são incentivados a "se posicionar", "gerar valor" e "ser autoridade".

O problema não está na ferramenta, mas em como ela vem sendo aplicada: com exageros, fórmulas vazias e perda de autenticidade. Afinal, até que ponto vale a pena se tornar uma marca?

Philip Kotler, referência mundial em marketing, já apontava que o conceito de marca pode ser aplicado a indivíduos, desde que se compreenda que uma marca não é apenas um logotipo ou uma embalagem. No livro Marketing 3.0 e 4.0, ele explica que pessoas, assim como marcas, precisam comunicar propósito, valores e diferenciais.

A lógica é simples, se as empresas devem se posicionar para se destacar, os profissionais também. Ter uma marca pessoal bem construída pode abrir portas, aumentar o reconhecimento e até gerar novas oportunidades de negócio ou carreira.

No entanto, o problema atual do marketing pessoal não está em sua prática, mas na forma como muitos têm levado essa ideia ao extremo — transformando não apenas sua imagem em marca, mas a si mesmos em produto, como se toda a identidade estivesse a serviço do mercado. Sim, veja o problema disso, estar a serviço do mercado é ser ditado por ele.

Chega a ser cansativo como as redes sociais viraram vitrines de autopromoção constante e exageros, um espaço onde as pessoas tentam vender uma imagem super produtiva, inspiradora e bem-sucedida. O problema é que tudo isso vai na contramão de estudos sobre vulnerabilidade e autenticidade.

Para a  psicóloga Brené Brown, especialista no tema, “as pessoas se conectam mais com quem é verdadeiro do que com quem parece perfeito”. Mais do que uma “imagem bonita e perfeita”, ser referência em algo exige consistência, estudo e entrega real de valor. O que contrasta com uma tendência crescente de tentar “virar autoridade” antes de, de fato, construir repertório e experiência.

Outro ponto crucial que quero conversar com vocês: embora o marketing pessoal possa impulsionar seus resultados, ele não deve ser a única alavanca de vendas da sua empresa, ou seja, a sua empresa não pode depender só da sua imagem para obter sucesso no mercado.

É comum ouvir de empreendedores que, se não aparecem nos stories, se não gravam vídeos, se não publicam com frequência, as vendas caem. Mas essa dependência é perigosa. Significa que não há um sistema de marketing estruturado e sim uma exposição contínua e cansativa como única forma de gerar receita.

A lógica tem que ser inversa, a rede social precisa trabalhar para você e não você trabalhar para a rede social. A marca pessoal pode ser uma ponte de conexão e confiança com seu público, mas o marketing da empresa deve ter outras bases de sustentação, tais como canais de tráfego, posicionamento de marca, estratégias de produto, atendimento, experiência do cliente, parcerias e reputação.

Se sua presença for o único motor do negócio, você se torna o gargalo da sua própria empresa. E isso, além de esgotar, limita o crescimento. Portanto, se essa situação acontece com você, repense seu marketing. Também esteja atento sobre o tipo de persona que criou, se ela reflete seus verdadeiros valores. Lembre-se que reputação se constrói com ações, não só com posts.

Diante de um cenário saturado de fórmulas prontas e visibilidade a qualquer custo, uma boa estratégia de marca pessoal precisa começar com autoconhecimento. É sobre reconhecer quem você é, o que acredita, o que tem a oferecer e com quem, de fato, deseja se conectar. A autenticidade não deve ser moldada artificialmente para se alinhar a uma estratégia, mas também não precisa ser vista como oposição a ela.

O ponto está em compreender que sua verdade pode não agradar a todos, e tudo bem. Em vez de tentar ser genérico para alcançar multidões, vale mais ser genuíno para um nicho que reconhece, valoriza e se conecta com quem você é. Há mais força em estar inteiro para poucos do que fragmentado para muitos.

Marketing pessoal, portanto, não é sobre parecer, é sobre ser para depois comunicar com clareza; é sobre coerência entre o que se é, o que se faz e o que se diz, o que nos exige consciência, reflexão e, principalmente, coragem para ser verdadeiro em um mundo que tantas vezes valoriza apenas a performance. Há quase 20 anos trabalhando com o marketing de empresas de Mato Grosso, acredito que possamos construir um legado de sucesso coerente e autêntico juntos!

Dayane Nascimento, consultora marketing com formação na UFMT, especialista em planejamento estratégico e economia comportamento pela ESPM/SP e empresária