Opinião
MARIA AUGUSTA RIBEIRO – Big Data, Capitalismo de vigilância e privacidade
A grande área da tecnologia responsável por tratar, analisar e obter informações a partir do conjunto de dados que produzimos ao navegar em ambiente digital esta tomando novos rumos e eles não são bons.
Isso porque o que deveria propor produtos melhores, serviços mais adequados e estimular nossa consciência digital esta apenas produzindo insights para vender mais.
Assim somos tomados por anúncios repetitivos de marketing, forçados a aceitar termos e condições que mudam de acordo com o humor de seus CEOs e nossos dados são comercializados sem qualquer ética.
Ninguém esta sendo forcado a utilizar uma tela na mão certo? O que esta pegando e que a cada passada de dedo pela tela a famosa coleta sub-reptícia acontece sem que estejamos cientes.
Privacidade? Acredita que em algum momento dos dias modernos temos nossa privacidade de dados tratada como deveria?
Segundo Nick Couldry e Ulisses Mejias o custo da conexão com a internet é que ao dar nossas informações voluntariamente a grandes corporações estamos sendo colonizados pelos dados e não mais por nossas vontades.
Tecnologia deveria ser muito mais sobre facilitar processos, encurtar distancias e melhorar a vida das pessoas do que de fato sobe consumo.
Hoje estamos sendo transformados em consumistas digitais e tudo bem se você é um adulto que deseja viver assim, mas quando falamos de crianças que estão sendo transformadas em consumistas mirins o conceito se transforma.
Uma criança que é estimulada ao consumo e não tem seus dados protegidos vai determinar os rumos de nossas democracias amanha, podemos estar produzindo novos ditadores. Já parou para pensar como isso é forte?
O luxo das gerações consumistas de hoje, será a necessidade das próximas amanha e isso vende. Então aquele capitalismo de vigilância tão falado por Shosana Zuboff não é mais coisa de ficção cientifica é realidade.
Parece meio subversivo porque a netnografia trabalha justamente com o estudar o comportamento do consumidor e gerar insights através dos dados.
Porem as pessoas aprendem que essa técnica de mercado precisa ser analisada por pessoas, respeitando a ética e com permissão de quem esta sendo analisado, para aí criar oportunidade de negócios.
O que o capitalismo de vigilância esta fazendo conosco é ditar nossas vontades, hábitos, projetos, gostos e ainda dizer o que teremos vontade de consumir.
Particularmente me assusta o termo “preditivo” quando falamos de dados, porque isso normalmente esta atrelado a praticas ocultas de extração dos nossos dados e isso meio que cria uma experiência onde nosso comportamento é modulado apenas para consumir e não criar uma sociedade melhor.
Aquele direito de autonomia da liberdade não existe mais. A nova arquitetura global de modificação de comportamento, onde a dopamina vai as compras e não mais o senso critico é o que interessa.
A tecnologia precisa ser encarada como ferramenta e não mais como brinquedo nas mãos das Big Techs e o usuário passar a exercer seu direito e exigir delas privacidade dos dados.
Se a humanidade tem solução? Se as próximas gerações serão mais perspicazes? Se teremos lideres capazes de melhorar o mundo? Isso é uma pergunta de trilhões de bitcoins e muito reflexiva.
Precisamos é começar a olhar nossos hábitos digitais, verificar para que precisamos de tanta tecnologia? E fazermos a famosa pergunta: Para que precisamos de uma tela o tempo todo?
Dizem que somos cidadãos mais conscientes quando temos mais perguntas do que respostas e esta é a grande chave para se entender mais o universo digital, ter senso critico já é um começo para se mudar as coisas.
Maria Augusta Ribeiro é especialista em Netnografia e Comportamento Digital
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