BRUNA GUETTI

Longevidade feminina: quando a comparação digital rouba a autoestima

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Longevidade feminina: quando a comparação digital rouba a autoestima

Todos os dias, no consultório, recebo mulheres que já passaram dos 40. São mulheres incríveis, cheias de histórias, conquistas e aprendizados. Muitas chegam realizadas profissionalmente, independentes, com filhos crescidos ou vivendo novas fases da vida. Mas, em meio a tantas vitórias, quase sempre aparece um mesmo incômodo: a sensação de que estão envelhecendo “mal”.

E não é o corpo que está em crise. Na maioria das vezes, a questão nasce do que veem nas redes sociais. Ali, os filtros e as edições criam uma juventude eterna, pele sem marcas, corpos sem sinais do tempo, vidas sem falhas. Quando se olham no espelho, acabam comparando a própria realidade com essas imagens irreais. O resultado é cruel: sentem-se insuficientes, como se estivessem ficando para trás.

Já ouvi relatos de mulheres saudáveis e bonitas que evitam sair de casa por não se acharem “adequadas” para uma foto em grupo. Outras deixam de marcar consultas por vergonha de falar sobre o próprio corpo. Pequenas renúncias que, somadas, minam a autoestima e pesam na saúde de forma silenciosa.

Mas a verdade é que a mulher de 40+ está em um dos momentos mais potentes da vida. É quando carrega maturidade emocional, liberdade de escolha e coragem para ser quem realmente é. O envelhecimento, quando abraçado com consciência, traz força, autenticidade e plenitude. O problema é quando essa fase passa a ser medida pela régua distorcida da internet.

Acredito que precisamos reaprender a olhar para nós mesmas. As redes podem ser boas companheiras se usadas com senso crítico, buscando inspiração real e não padrões inalcançáveis. A vida editada do outro não deve servir de espelho.

Aos 40, e em qualquer idade, longevidade não é apenas contar anos, mas viver cada etapa com saúde e significado. Cuidar do corpo importa, mas cuidar da mente, das relações e da forma como nos enxergamos é essencial. O filtro mais bonito não está no celular. Está no olhar generoso que escolhemos ter diante do próprio reflexo.

Dra. Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade feminina