CASO RENATO NERY

Justiça autoriza vasculhar celular de advogado morto em guerra por honorários de R$ 18,5 milhões

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Justiça autoriza vasculhar celular de advogado morto em guerra por honorários de R$ 18,5 milhões

Conteúdo/ODOC - A Justiça de Mato Grosso autorizou a extração de dados de conversas entre o advogado Renato Nery, morto a tiros em julho de 2024, e o desembargador aposentado Manoel Ornellas de Almeida, que cobra R$ 18,5 milhões do espólio do colega por serviços prestados ao longo de quase uma década. A decisão é da juíza Ana Cristina Mendes, da 4ª Vara Cível de Cuiabá, e foi assinada na sexta-feira (28).

Ornellas move ação para receber honorários que afirma serem resultado de um contrato verbal firmado com Nery entre 2015 e 2024. Ele sustenta que atuou em processos milionários envolvendo disputas por áreas rurais e que sua participação foi decisiva para a vitória judicial obtida pelo advogado assassinado, motivo que teria alimentado o crime, segundo investigações já divulgadas.

O magistrado aposentado pediu acesso ao conteúdo do celular de Nery, apreendido na investigação do homicídio, alegando que as mensagens e registros de chamadas podem comprovar os termos do acordo verbal. A juíza concordou em permitir a coleta das informações, mas com restrições rígidas para impedir violação desnecessária da privacidade do falecido e de terceiros.

A triagem deverá se limitar a comunicações relacionadas aos honorários e aos processos mencionados. Para isso, Ornellas deve apresentar, em até quinze dias, uma lista de palavras-chave — como “pagamento”, “contrato”, “êxito” e nomes das ações judiciais — que nortearão a busca. A relação será submetida à defesa do espólio, que poderá contestar termos antes da autorização final do juízo criminal. Todo material obtido ficará sob sigilo e lacrado.

A decisão também organizou os pontos de divergência do processo, distribuiu o ônus probatório e marcou a audiência de instrução e julgamento para 12 de março de 2026.

Assassinato ligado a disputa de terras

Renato Nery foi executado em 5 de julho de 2024, ao chegar em seu escritório em Cuiabá. O Ministério Público aponta que o crime decorreu de um conflito pela posse de mais de 800 hectares avaliados em cerca de R$ 30 milhões.

Foram denunciados como mandantes a empresária Julinere Goulart Bentos e seu marido, Cesar Jorge Sechi. De acordo com a acusação, o casal, insatisfeito com o resultado da disputa judicial, encomendou o homicídio. Uma confissão informal de Julinere, citada nos autos, indica que ela afirmou que o advogado “não ia viver para gastar o que tomou de mim”.

O MP detalhou ainda que Cesar teria repassado R$ 200 mil ao policial militar Jackson Barbosa, que intermediou a participação de outros dois PMs. Um deles, Alex Queiroz, foi quem fez os disparos com uma arma oficial, em plena via pública e em horário comercial. Os três militares, todos ligados à Rotam, também foram denunciados por homicídio qualificado e seguem presos, assim como o casal apontado como mandante.

O caso segue sob acompanhamento do Judiciário e do Ministério Público até a conclusão das ações penal e cível relacionadas ao episódio.