Conteúdo/ODOC - Uma discussão entre a juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, da 1ª Vara Criminal de Cuiabá, e advogados marcou o primeiro dia do júri popular do investigador da Polícia Civil Mário Wilson Vieira da Silva Gonçalves, realizado nesta segunda-feira (15). O episódio ocorreu em plenário e terminou com a retirada de advogados da defesa, além de repercutir entre a classe jurídica.
Durante o embate, a magistrada reagiu de forma exaltada após menções à atuação da Ordem dos Advogados do Brasil no acompanhamento da sessão. Em meio à discussão, afirmou: “Ah, que se dane, uai. Vocês estão aí só levantando OAB, OAB, OAB. Mantenham o respeito”.
Um dos advogados respondeu dizendo que “quando há desrespeito às prerrogativas, a OAB se levanta”. Segundo o advogado Claudio Dalledone, integrante da defesa, a tensão começou após a comunicação de que a entidade acompanhava o julgamento para verificar eventual violação de prerrogativas profissionais.
Após a troca de falas, a juíza determinou que os advogados envolvidos fossem retirados do plenário. Em reação, um dos defensores classificou a situação como absurda e desafiou a magistrada a decretar sua prisão. “Isso é um absurdo o que está acontecendo aqui. Mande prender, então, excelência. Eu entrego a minha liberdade à vossa excelência. Mande me prender. Entrego minha liberdade pela defesa do acusado. Vossa excelência está ultrapassando todos os limites”, declarou.
Ainda conforme Dalledone, a sessão só foi contida após a intervenção de um policial militar que atuava no local. Na manhã desta terça-feira (16), advogados realizaram uma manifestação no Fórum de Cuiabá em protesto contra a postura da magistrada durante o julgamento.
Até o momento, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso não se pronunciou oficialmente sobre o episódio.
O caso julgado envolve o investigador da Polícia Civil Mário Wilson Vieira da Silva Gonçalves, acusado de matar o policial militar Thiago de Souza Ruiz dentro da loja de conveniência de um posto de combustível em frente à Praça 8 de Abril, em Cuiabá, no dia 27 de abril de 2023. O réu responde por homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Ele está em liberdade desde setembro de 2023.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual, o investigador e um amigo estavam no local quando encontraram uma terceira pessoa que apresentou o policial militar aos dois. Conforme a acusação, houve desconfiança mútua sobre a condição policial de ambos, o que deu início a um desentendimento.
Ainda segundo o MPE, em determinado momento, Thiago levantou a camisa e deixou à mostra uma cicatriz, expondo também um revólver. O investigador teria se apoderado da arma, o que intensificou a discussão. Na sequência, os dois entraram em luta corporal e caíram no chão. Testemunhas tentaram intervir, mas o policial militar acabou sendo atingido por vários disparos de arma de fogo efetuados pelo investigador.