De que Igreja estamos falando? Eis a resposta! “Caminhemos cantando, que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da Esperança....Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo opcional, nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”...por isso... “A conversão ecológica que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura, é, também, uma conversão comunitária” Papa Francisco, Laudato Si, 244, 217 e 219.
Ao longo dos tempos, décadas e séculos a Igreja tem se preocupado com a saúde do planeta, diversos Santos da Igreja, Papas, teólogos, leigos e leigas dedicaram parte de suas caminhadas em reflexões, ações sociotransformadoras e mobilização profética que conduzam a uma forma criação de Deus, a quem chamava de irmãos e irmãs (irmão sol, irmã lua, irmã terra).respeitosa de relacionamento da humanidade com a natureza, tendo em vista, inclusive, o direito das futuras gerações de viverem em um planeta saudável e sustentável.
O grande exemplo vem de São Francisco de Assis, em seu “Cântico das Criaturas”, que neste ano de 2025 está completando 800 anos, cuja vida simples tratava todos os seres vivos, humanos, não humanos, enfim, todo o universo, como partícipes de uma mesma obra da criação, fruto de um único e mesmo Criador.
Ao ser escolhido Papa, aquele que veio do “fim do mundo”, o então Cardeal Argentino, formado na esteira do Concílio Vaticano II e da Teologia da Libertação, o primeiro da América Latina a ser escolhido entre seus pares para suceder São Pedro, como o Bispo de Roma, como forma de marcar seu papado e magistério voltado para as questões ambientais e também um cuidado especial com os pobres e com a paz, escolheu, como seu novo nome PAPA FRANCISCO.
Apenas três anos após ter sido eleito Papa, Francisco escreveu a Encíclica Laudato Si, voltada para a ECOLOGIA INTEGRAL, condensando, resumindo todas as manifestações e contribuições da Igreja em um único documento que é esta Encíclica que tem marcado seu magistério tanto dentro da Igreja Católica quanto entre outras religiões cristãs e não cristãs.
Pouco após a publicação da Encíclica Laudato Si, em outubro de 2015, por ocasião dos 50 anos do Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco enfatizou que diante dos desafios do terceiro milênio a Igreja precisa ser sinodal e profética, escudada na comunhão, na participação e na missão.
Além de caminhar juntos e em harmonia leigos, pastores e o Bispo de Roma (o Papa), uma Igreja sinodal é caracterizada por ser aberta ao diálogo, `a participação, que vive a esperança e que propõe a busca e a construção de uma sociedade justa, solidária, que lute pela paz e pela justiça, em defesa principalmente dos pobres, excluídos e oprimidos.
É esta Igreja Sinodal e também profética que abraça a causa da Ecologia Integral, o cuidado com a Casa Comum, onde “tudo está interligado” e que a solução para esses desafios passa pela mudança de hábitos e estilos de vida e de modelos de sistemas de produção e de relações de trabalho que é a conversão ecológica.
O Papa Francisco não tem cansado de nos exortar quanto `a gravidade do processo de degradação dos biomas, dos ecossistemas, a destruição da biodiversidade, as diversas formas de poluição e, principalmente em relação ao aquecimento global, que está se tornando a cada dia uma crise climática sem precedentes na história humana, cujas consequências serão incalculáveis, afetando todos os tipos de vida no planeta, inclusive a vida humana.
Mesmo em meio a tanta destruição pelo desmatamento, pelas queiamdas, pela expansão da desertificação, pelas contaminações dos solos, do ar e das águas, pelos resíduos químicos, pelo lixo, pelos agrotóxicos, pela erosão fruto de modelos econômicos que não respeitam nem os limites e direitos da natureza, nem os direitos dos consumidores, dos trabalhadores, colocando, inclusive a vida de futuras gerações em risco.
Aqui no Brasil, ao longo das últimas décadas a CNBB tem escolhidos como temas da Campanha da Fraternidade diversas questões ambientais, como os Biomas brasileiros, a água, o saneamento, a Amazônia, os povos indígenas e diversos outros temas.
Em comemoração aos dez anos da Encíclica Laudato Si, que deverá ocorrer em 24 de Maio próximo, ao ano jubilar, aos 800 anos do Cântico das Criaturas e, também a realização da COP 30 em Belém, o tema da Campanha da Fraternidade neste ano (2025) é a ECOLOGIA INTEGRAL , tendo como lema “Deus viu que tudo era muito bom”. Era, mas atualmente não está tão bom assim.
O Objetivo geral da Campanha da Fraternidade deste ano é “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de CONVERSÃO INTEGRAL, ouvindo o grito da terra e o grito dos pobres”.
Dentre os 11 objetivos Específicos da Campanha da Fraternidade deste ano podemos destacar: a) denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao planeta; b) apontar as causas da grave crise climática global, a urgência de alteração profunda nos nossos modos de vida e as falsas soluções; c) aprofundar o conhecimento do evangelho da criação, d) explicitar a Doutrina Social da Igreja e assumir o compromisso com a conversão ecológica integral (conversão ecológica individual e comunitária); e) Incentivar as pastorais (inclusive a pastoral da ecologia integral) e os movimentos socioambientais, tendo como parâmetros a justiça socioambiental, a justiça climática e a justiça intergeracional e uma atuação socioeducativa; f) promover e apoiar ações concretas e efetivas que visem `a mudança de modelos econômicos que ameaçam todos os tipos de vida, principalmente a vida humana no planeta.
Para o pleno êxito desta Campanha que não deve terminar no final da Quaresma, por ocasião da Coleta Nacional da Solidariedade, no Domingo de Ramos, a CNBB produziu uma série de subsídios, como o texto básico e diversas cartilhas voltadas para públicos específicos como crianças, adolescentes, jovens, estudantes universitários e também uma cartilha que trata da relação entre a Ecologia Integral e a Economia de Francisco e Clara, a economia solidária, a agroecologia, tendo o bem comum como um farol a orientar todas as reflexões e ações tanto de católicos quanto de evangélicos e adeptos ou fiéis de outras religiões, pois entende que os desafios socioambientais e suas consequências atingem todas as pessoas, recaindo, todavia com um maior peso sobre os pobres e excluídos.
Diante da gravidade da crise climática, a Campanha da Fraternidade ao colocar no centro de suas preocupações a Ecologia Integral representa um chamado direto e claro para os católicos, de quem o Papa Francisco é o Pastor, para que assumam suas responsabilidades para com as obras da Criação em todas as dimensões e setores da sociedade brasileira e de nosso país, tão castigado pela ganância de uns poucos que destroem a natureza em nome do progresso, do lucro e da acumulação de capital que beneficiam muito mais uma pequena minoria, enquanto a grande maioria da população continua vivendo na pobreza, na exclusão e na miséria.
Concluindo, relembremos uma, dentre tantas, exortações do Papa Francisco que não deixa de ser uma provocação a todos os cristãos, católicos, evangélicos e fiéis de todas as demais religiões, “Uma estratégia de mudança real exige repensar a totalidade dos processos, pois não basta incluir considerações ecológicas superficiais, enquanto não se puser em discussão a lógica subjacente `a cultura atual. Uma política sã deveria ser capaz de assumir este desafio” Laudato Si, 107.
Este é o domínio do que denominamos de ECOLOGIA POLÍTICA, que está voltada para as transformações estruturais profundas que irão enfrentar essas crises mencionadas, inclusive a crise climática, sem o que, o nosso planeta continuará sendo destruído pela ganância e insensatez de uma minoria e a passividade e omissão da grande maioria da humanidade.
Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral na Região Centro Oeste. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy Whats app 65 9 9272 0052
