LUÍS KOHLER

Fiscalização Sanitária: porque o Brasil precisa evoluir

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Fiscalização Sanitária: porque o Brasil precisa evoluir

No Brasil, a vigilância sanitária cumpre um papel fundamental para proteger a população. Sem fiscalização, não há garantia de segurança. Mas também é verdade que um modelo baseado quase exclusivamente em punição não melhora processos, não qualifica serviços e não aproxima o Estado da sociedade.

O país precisa encarar essa discussão com maturidade: é hora de evoluir de um modelo punitivo para um modelo orientador, preventivo e tecnicamente sustentável.

Quando o fiscal vira ameaça, o sistema perde

Durante anos, estabelecimentos de saúde — especialmente as farmácias — se habituaram a ver a fiscalização como um momento de tensão. Não deveria ser assim.

O medo constante de autuação cria um ambiente onde o profissional deixa de se concentrar no cuidado e passa a operar sob alerta permanente. Isso não melhora a performance sanitária.

Isso paralisa.

E quando um sistema paralisa por medo, quem perde é o paciente — o cidadão que depende do serviço de saúde para resolver problemas reais.

A orientação qualifica mais do que a punição

Os países que evoluíram os seus modelos de vigilância adotaram uma lógica simples:

⚬ Ensinar antes de punir
⚬ Padronizar antes de autuar
⚬ Prevenir antes de sancionar

E os resultados são claros: melhoria de indicadores sanitários, redução de infrações e aumento de segurança para a população.

Punição não educa.

Punição apenas corrige o passado.

Quem forma o futuro é a orientação.

Farmacêuticos carregam o peso da responsabilidade — muitas vezes sozinhos

No cotidiano, quem sente o impacto direto da fiscalização é o farmacêutico. Ele é responsabilizado técnica, ética e até civilmente. Mas é também quem, muitas vezes, não recebe treinamento adequado, não dispõe de manual atualizado e não tem suporte da empresa.

Mesmo assim, é ele quem responde diante do fiscal.

É legítimo entregar tanta responsabilidade a um profissional sem garantir, antes, o suporte necessário?.

A resposta é óbvia — e urgente.

A fiscalização moderna deve ser parceira do serviço de saúde

Fiscalizar não é “punir o infrator”.

Fiscalizar é “proteger a saúde pública”.

E isso só é possível quando fiscalização e estabelecimento não se enxergam como adversários, mas como integrantes de uma mesma cadeia de proteção.

O Brasil precisa avançar para três pilares:

Educação sanitária contínua

Visitas orientativas, guias didáticos, comunicação permanente.

Fiscalização justa, técnica e padronizada

Critérios claros, objetividade, menor variação interpretativa e decisões pautadas em risco sanitário real.

Punição proporcional e responsável

Necessária, sim — mas como consequência extrema, não como ferramenta primária.

Esse é o modelo que reduz risco, aumenta segurança e aproxima os profissionais do Estado.

O papel institucional: liderança, diálogo e visão de futuro

Como especialista em regulação sanitária, tenho visto que os melhores resultados não nascem da imposição, e sim do diálogo.

Quando o Estado se dispõe a orientar, o setor responde.

Quando constrói pontes, o profissional se engaja.

Quando explica, a farmácia melhora.

A vigilância sanitária brasileira é competente, tem quadros valiosos e atua com boa-fé.

O que falta não é capacidade — é estrutura de política pública.

Precisamos modernizar diretrizes, atualizar processos, integrar dados e reduzir distorções regionais que fazem o mesmo ato ser interpretado de dez maneiras diferentes no país.

É assim que se cuida de um sistema tão complexo quanto o da saúde.

Fiscalizar com humanidade é fiscalizar com eficiência

O Brasil tem uma oportunidade histórica de elevar a vigilância sanitária a um novo patamar: um modelo que protege, orienta, capacita e responsabiliza de forma justa.

Um modelo que entende que profissionais bem-informados erram menos.
E que serviços bem orientados oferecem mais segurança à população.

No fim, fiscalização não é sobre multar.

É sobre cuidar.

E cuidado se constrói com presença, técnica, responsabilidade e humanidade.

Luís Köhler é farmacêutico, especialista em Regulação Sanitária, conselheiro federal de Farmácia eleito 2027-30 (MT)