ALVO DA PF

Em prisão domiciliar, lobista teria voltado a operar esquema de venda de sentenças judiciais

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Em prisão domiciliar, lobista teria voltado a operar esquema de venda de sentenças judiciais
Andreson Gonçalves (no detalhe), alvo de operação autorizada pelo ministro do STF, Cristiano Zanin

Breno Pires/Revista Piauí - Com uma carteira onde se lia “OAB” no bolso, Andreson de Oliveira Gonçalves circulava pelos corredores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) como se fosse advogado. Nunca foi – o documento, que remetia à OAB do Pará, era falsificado. Mas, segundo a Polícia Federal, a sua influência era real: intermediava votos de ministros, distribuía minutas de decisões antes da hora e pagava magistrados e auxiliares com milhões de reais.

Na manhã desta sexta-feira, 3 de outubro, a PF voltou a bater em sua porta, num condomínio de elite em Primavera do Leste, em Mato Grosso, diante da suspeita de que, mesmo em prisão domiciliar, Gonçalves continuava o esquema de venda de sentenças no Judiciário.

A nova fase da Operação Sisamnes está sendo mantida sob  sigilo, determinado pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, que sequer autorizou a confirmação da nova fase da operação. Por essa razão, a PF não prestou informações . A informação sobre a operação foi dada inicialmente pelo jornal FolhaMax e confirmada pela piauí

Gonçalves havia passado para a prisão domiciliar três meses atrás, sob autorização de Zanin, por razões de saúde

Pessoas que acompanham o caso entendem que, se a suspeita é de continuidade na atividade criminosa, seria o caso de prisão, exceto se constatado que, pela fragilidade de seu estado de saúde, ele correria risco no sistema prisional. Segundo uma fonte ouvida pela piauí, o ministro Zanin designou um perito para ir até a casa de Gonçalves checar quais são suas reais condições de saúde. Além disso, foi preso um ex-PM que fazia segurança particular de Gonçalves, por tentar esconder um celular após a chegada da PF, o que configura obstrução de justiça.

Nessa investigação intrincada, iniciada com a análise dos conteúdos do celular do advogado Roberto Zampieri, morto em dezembro de 2023 em Cuiabá, Gonçalves foi o primeiro personagem a saltar aos olhos das autoridades. 

As mensagens trocadas entre o advogado e o lobista mostravam conexões e pagamentos entre empresários, desembargadores de Mato Grosso e servidores do STJ. 

Com a esposa, a advogada Mirian Ribeiro Gonçalves, formava um casal eficiente: ela assinava contratos e petições, dando aparência legal às operações, enquanto ele se vangloriava de entregar decisões encomendadas. As investigações apontam que sua empresa, Florais Transportes, foi usada para distribuir propinas em Mato Grosso, com repasses superiores a seis milhões de reais a familiares de um juiz estadual. 

Também surgiram indícios de vantagens a desembargadores, como contratos advocatícios firmados com filhos de magistrados, presentes de luxo e até barras de ouro. 

Andreson Gonçalves foi preso em 26 de novembro de 2024 e, desde então, nunca fez uma declaração pública sobre o caso. A nova ofensiva da PF sugere que o silêncio era apenas fachada e que ele seguiu atuando de dentro de casa, desafiando as cortes superiores. 

As revelações da Sisamnes expuseram uma vulnerabilidade inédita no STJ: arquivos apreendidos mostram minutas de votos circulando fora do tribunal, com suspeita de vazamentos em ao menos oito gabinetes. 

Até agora, em sindicância interna, o STJ demitiu um único servidor, Márcio José Toledo Pinto, que foi auxiliar do gabinete de duas ministras, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Segundo a investigação da PF, Pinto vazava minutas de decisões, e uma empresa criada por ele em nome da esposa, a Marvan, recebia cifras milionárias da Florais, a firma de Anderson. 

Ministros do STJ se defendem, mas admitem, em privado, que a crise não se limita a indivíduos, mas atinge a própria imagem da corte, que tenta reagir em meio ao constrangimento e à pressão por transparência.