Hoje é domingo. Como todos os dias, acordo bem cedo.
Mas os domingos já amanhecem tristes.
Olho pela janela e vejo as ruas vazias, poucos transeuntes caminhando sem pressa.
Um ou outro carro desliza silencioso pelo asfalto.
O centro comercial dorme com suas portas cerradas. Nos prédios, um silêncio espesso protege o sono dos moradores.
Nas calçadas, mendigos dividem o repouso com cachorros magros, todos embalados pelo frio da indiferença. A cidade parece morta.
Os domingos carregam peculiaridades que só eles têm — e muitas delas são melancólicas.
Tenho a impressão de que nesse dia, muita gente prefere tomar café fora de casa.
Talvez seja o dia de folga da empregada, ou apenas um pretexto para sair.
Os clientes das padarias aos domingos não são os mesmos da semana.
No almoço, restaurantes, botequins e botecos transbordam de gente.
Poucos ainda mantêm o hábito do almoço caseiro.
Há os que buscam a mesa de parentes, tentando resgatar a tradição do almoço de domingo em família.
Outros preferem pegar a estrada para almoçar fora da cidade, enfrentando filas sob um calor de quarenta graus.
É preciso vocação para esse tipo de programa.
Depois do almoço, a cidade mergulha num torpor.
A tristeza se instala de vez, e me dá vontade de dormir, ainda que eu saiba que despertarei para a segunda-feira, o dia mais antipático da semana.
Por que me sinto assim em relação ao domingo? Seriam as lembranças da infância, quando ele era tão aguardado e celebrado?
Naqueles tempos, tudo de bom acontecia aos domingos.
Missa na Matriz, chá com bolo e casa cheia.
No almoço macarronada com galinha e de sobremesa doce de goiaba.
O refresco de caju e as histórias dos mais velhos completavam a festa.
À tarde, futebol descalço até escurecer.
Depois, banho no quintal, sob a água fresca do poço, e o “ajantarado” preparado por mamãe, que sempre parecia esperar uma visita de última hora.
Antes de dormir, um joguinho de botão no corredor da minha casa.
Por fim, um copo de leite, a oração noturna e o sono tranquilo. Segunda-feira, colégio.
Talvez o domingo seja melancólico porque me lembra tudo o que ficou para trás. Ou porque me lembra que a vida adulta nos roubou aqueles pequenos rituais de felicidade.
O domingo é tão inútil que nem para uns drinques serve — a ressaca da segunda-feira não perdoa.
Sim, o domingo é um dia triste.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado