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Dois trabalhadores flagrados em situação análoga à escravidão são resgatados em MT

Um barraco velho de madeira fazia às vezes de alojamento dos trabalhadores, de selaria para os cavalos e de depósito
Auditores-Fiscais da Superintendência Regional do Trabalho em Mato Grosso, com apoio de investigadores da Gerência de Operações Especiais (GOE), resgataram dois trabalhadores de condições análogas à escravidão no Norte do Estado. Eles estavam aplicando agrotóxico e lidando com gado sem os devidos equipamentos de proteção e sendo submetidos a condições subumanas, entre outras irregularidades.
A operação ocorreu entre 24 de abril e 1º de maio numa fazenda cuja atividade é voltada a criação de bovinos para corte localizada na zona rural do município de Itaúba (579 km de Cuiabá/MT).
Durante as inspeções, a equipe, coordenada pela Auditora-Fiscal do Trabalho Maria Neuzeli Arantes de Oliveira, e com o apoio dos AFTs Geraldo Vaguino Alves dos Reis e Márcio Beraldo Godinho de Castro, constatou que os trabalhadores eram vítimas de inúmeras infrações em razão do descumprimento generalizado, por parte do empregador, das normas protetivas do trabalho.
- D. C., trabalhador rural, não alfabetizado, informou que trabalhava no local há mais de um ano, que executava as tarefas de limpeza do quintal e também era o responsável por tratar dos animais (dava milho aos porcos, às galinhas, aos cavalos e ração às vacas com bezerros pequenos), além de fazer os reparos das cercas da propriedade. Pelo serviço, deveria receber R$ 80,00 por dia.
Já S. S. P., trabalhador rural, laborava na atividade de aplicação de agrotóxicos, com a utilização de bombas costais desde fevereiro de 2019, com a promessa de anotação do contrato de trabalho em CTPS e recebimento de remuneração mensal de R$ 1.300,00.
“O descaso do empregador em oferecer condições dignas de trabalho, principalmente aos dois obreiros diretamente envolvidos com os serviços braçais, refletia em toda a propriedade, na área de vivência, na degradância do alojamento, no fornecimento das refeições e de água, na moradia, no ambiente de trabalho insalubre, na informalidade deliberada”, pontuou a coordenadora da operação.
Um barraco velho de madeira fazia às vezes de alojamento dos trabalhadores, de selaria para os cavalos e de depósito. Anexo ao alojamento havia o banheiro, cuja parte até a altura da cintura era de alvenaria. A selaria estava repleta de estrume de animais e de terra revirada.
No pequeno depósito, eram guardados selas, ferramentas, cordas e medicamentos para animais. “O local (denominado de alojamento) disponibilizado aos trabalhadores para o descanso após as jornadas de trabalho no campo, causava repulsa nas pessoas que o adentravam”, descreveu a coordenadora.
O depósito de agrotóxicos, localizado nas imediações da sede e dos alojamentos, era uma construção de aproximadamente 16 metros quadrados, construída de tábuas, elevada aproximadamente 50 centímetros do solo. “O local denotava a péssima conservação e abrigava sacos de complementos alimentares para bovinos juntamente com os diversos frascos plásticos com agrotóxicos”.
Cita o relatório que o ambiente apresentava grande mau cheiro, seja pela sujeira acumulada E causada pela falta manutenção, seja pelos odores exalados dos produtos que se encontravam no quarto utilizado como depósito, ou pelas fezes dos animais que utilizavam a selaria, situada na parte externa do alojamento.
Também ficou constatado o descumprimento das normas de saúde e segurança no trabalho. A fazenda, apesar de ter trabalhadores diretamente envolvidos em atividades de risco, tais como o manejo de gado, criação de suínos, aplicação de agrotóxicos nos pastos, construção e reparos de cercas, entre outros, não possuía o Programa de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho Rural ou similar.
“Por conseguinte, não adotava as medidas de avaliação e gestão dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores e exigidas pela legislação trabalhista”, escreveu a coordenadora Maria Neuzeli Arantes de Oliveira.
- D. C. nunca fez exames médicos (admissionais ou periódicos), nunca recebeu treinamentos, não recebia equipamentos de proteção adequados aos riscos, e sequer possuía o conhecimento de quais equipamentos deveria utilizar no manejo com os animais.
- S. P. era responsável pela aplicação dos agrotóxicos para o combate às pragas que germinavam nos pastos da propriedade. Ele manipulava agrotóxicos altamente nocivos ao organismo humano, sendo que o empregador não fornecia vestimentas, equipamentos de proteção adequados, e nem capacitação. O trabalhador chegou a passar mal e ficou 15 dias afastado, sem remuneração.
Nenhum dos dois possuía Carteira de Trabalho e Previdência Social assinada e não souberam informar a data do recebimento dos proventos. Os dois resgatados também afirmaram que não estavam recebendo os valores combinados com o proprietário da fazenda.
No local não havia materiais de primeiros socorros, a água consumida vinha de uma bica represada em uma manilha, não havia sinalização das áreas tratadas com agrotóxicos, e embalagens vazias eram utilizadas para outros fins.
Providências
Diante da situação, os AFTs notificaram o proprietário da fazenda a promover a imediata paralisação das atividades dos trabalhadores e a abrigá-los em local adequado e conforme as especificações legais até a completa regularização da sua situação trabalhista.
O proprietário da fazenda foi localizado e, atendendo às determinações constantes na notificação, compareceu em audiência com os trabalhadores e, perante a equipe, concluiu o pagamento das verbas rescisórias e diferenças salariais apuradas pela Auditoria Fiscal.
Foi regularizado o registro do contrato de trabalho dos 2 trabalhadores, feitas as devidas anotações na CTPS de cada um deles, além da emissão de guias do Seguro Desemprego de trabalhador resgatado.
Ao final, os trabalhadores preencheram o formulário do “Projeto Ação Integrada de Amparo a Trabalhadores em Situação Análoga à Escravo” a fim de serem inseridos em programas de qualificações de acordo com suas aptidões.
Dados
Entre 1995 a 2018, segundo a Inspeção do Trabalho (Ministério da Economia), foram realizados mais de 50 mil resgates no Brasil, sendo 4.394 em Mato Grosso.


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