Há muita gente que não gosta de conversar sobre a própria saúde, escondendo suas doenças — alguns, inclusive, em estado terminal.
Nunca compreendi essa atitude.
As pessoas famosas ocultam até mesmo uma simples consulta médica.
A internação hospitalar delas torna-se uma verdadeira operação de guerra.
Raramente a imprensa divulga internações de artistas e políticos conhecidos, jogadores de futebol ou homens de negócios.
Parece que essas classes entendem a doença como uma vergonha — só posso acreditar nisso.
Quanto a mim, compartilho meus problemas de saúde com a cidade, por meio das minhas crônicas.
Desde os primórdios da civilização existe essa incompreensão diante da doença.
‘Vou lhe contar um segredo: fulano de tal está muito mal de saúde.’
É um sussurro que ouço há quase um século.
Muitos parecem considerar a morte algo feio, que deve ser escondido.
Todos que me acompanham sabem dos males que enfrento.
A doença é educativa — e devemos evitá-la por meio da prevenção.
No Parque Nacional do Xingu, ao norte de Mato Grosso, assisti ao Quarup do médico Noel Nutels.
Fui ciceroneado por Cláudio Vilas-Boas durante a noite do ritual, até o banho no rio, na manhã seguinte.
Compreendi o respeito e carinho que esses povos dedicam a seus doentes e mortos.
Nós, os chamados ‘civilizados’, precisamos nos conscientizar da importância da prevenção desde a infância.
Talvez, assim, compreendamos melhor o processo saúde-doença.
Aos 90 anos continuo com meus cuidados preventivos — agora, ainda mais intensos.
Obtive sucesso na educação dos meus filhos: nunca fumaram nem se viciaram em bebidas alcoólicas.
Controlam o peso corporal e frequentam academias.
Sua mãe, extremamente cuidadosa, foi vítima de um câncer renal — histologicamente incurável até hoje, apesar de todo o avanço da medicina.
Meus seis netos seguiram os passos dos pais e são muito saudáveis. O mesmo acontece com meus cinco bisnetos, graças a Deus.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado
