A vida em sociedade se apoia na confiança. Para que um direito seja reconhecido ou um benefício chegue a quem precisa, é indispensável que o Estado trabalhe com informações corretas e confiáveis. Quando essa base de dados falha, toda a política pública se compromete: o cidadão pode ser injustiçado, seja porque teve um direito negado, seja porque alguém sem legitimidade recebeu o que não lhe cabia. Por isso, tratar de dados estruturados e validados não é tecnicismo, mas uma exigência prática de justiça, transparência e eficiência.
Quando as informações estão organizadas em padrões claros, os sistemas conseguem dialogar entre si. Isso permite cruzamentos rápidos e precisos, reduzindo falhas e evitando burocracias desnecessárias. Um exemplo simples: o servidor que solicita a aposentadoria. Se registros de tempo de serviço, contribuições e progressões estão armazenados em bases diferentes, mas padronizadas, o sistema valida tudo em segundos. O mesmo vale para benefícios sociais, da transferência de renda à gratuidade no transporte público, que dependem de dados consistentes sobre renda, endereço ou composição familiar. Sem esse cuidado, abre-se espaço tanto para fraudes quanto para exclusões indevidas.
Organizar, no entanto, não basta. É preciso validar. Esse processo envolve auditorias automáticas, cruzamentos com outras bases oficiais e uso de certificação digital. Assim, cada decisão administrativa se apoia em evidências sólidas. A legislação brasileira reforça esse dever. A Lei do Governo Digital (14.129/2021) determina que o setor público utilize dados de forma eficiente e transparente. Já a Lei Geral de Proteção de Dados (13.709/2018) garante que a coleta e o uso respeitem a privacidade e a finalidade adequada. Em resumo: a lei exige dados corretos, seguros e aplicados de maneira legítima.
Na prática, esse rigor transforma vidas. Para o servidor público, significa aposentadorias e progressões tratadas com agilidade, sem longas disputas. Para a população em geral, é a certeza de que benefícios chegam a quem realmente precisa, fortalecendo a justiça social.
Dados estruturados e validados não são um detalhe técnico. São a espinha dorsal da cidadania digital e da boa administração pública. Tratar essas informações com seriedade é proteger direitos, evitar desperdícios e preservar a confiança da sociedade nas instituições. Sem dados confiáveis, não há gestão eficiente — nem cidadania plena.
Rodrigo Matos Medeiros
Subsecretário de Sistemas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso.
Advogado
Pós-graduado em Administração Pública; Ciência de Dados e Big Data Analytics.