BRUNA GHETTI

Cuidar é um ato de amor... e também de transformação

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Cuidar é um ato de amor... e também de transformação

Há gestos que não fazem barulho, mas que deixam marcas profundas. Cuidar é um deles. Não precisa de aplausos, nem de palavras grandiosas, mas tem uma força silenciosa que alcança lugares onde a técnica não chega. Quando idealizei o projeto “Cuidar é um ato de amor” na Seara de Luz, em Cuiabá, eu não queria apenas falar sobre saúde. Eu queria falar de encontro, de vínculo, de presença.

Antes de tudo, preciso dizer que a Seara de Luz e as Damas do Bem não são apenas uma instituição. São um abrigo emocional. É impossível entrar ali e sair sendo a mesma pessoa. Quando recebi o convite, imaginei que participaria de uma ação solidária, talvez ajudando a tornar o Dia das Crianças mais feliz com presentes. Mas naquela tarde fui eu quem recebeu um presente. Fui inundada por um afeto coletivo que nenhuma sala de consulta é capaz de ensinar.

Em um único dia, recebemos mulheres, adolescentes e crianças em torno de algo simples e essencial: o conhecimento sobre si mesmos. Realizamos 60 coletas de exames preventivos, rodas de conversa, oficinas lúdicas e muitas trocas de olhares e sorrisos. Enquanto as mulheres aprendiam sobre autocuidado e prevenção, as crianças descobriam, brincando, que saúde também mora nos hábitos, no corpo e no carinho por si.

Sempre acreditei que prevenir é amar antes que a dor chegue. E por isso quis transformar o exame preventivo em um momento de acolhimento. Quando o ambiente é humano, o que antes gerava medo ou vergonha se torna um gesto de coragem. Ali, nenhuma mulher foi apenas paciente. Cada uma trouxe sua história e confiou um pedaço de si em nossas mãos. E isso, para mim, é sagrado.

Eventos como este têm um poder discreto e revolucionário. Eles levam a saúde para onde ela precisa estar: no meio das pessoas. Rompem barreiras, criam pertencimento e mostram que cuidar é uma responsabilidade coletiva. Mulheres passam a se conhecer melhor, adolescentes aprendem a respeitar seus ciclos, e crianças crescem entendendo que cuidar do corpo é também cuidar da alma.

Saí ainda mais convencida de que a medicina mais transformadora é aquela que enxerga o ser humano antes do diagnóstico. A verdadeira promoção da saúde não acontece apenas entre protocolos, mas no encontro entre ciência e empatia. É quando dados se transformam em histórias e consultas viram conversas.

Nada disso teria sido possível sem a dedicação de tantas mãos que se uniram. Enfermeiras, nutricionista, voluntários, colaboradores. Cada um entendeu que cuidar vai além de tratar. É despertar consciência, fortalecer laços e, às vezes, apenas estar ao lado.

Meu agradecimento mais profundo à Dra. Rosi, que além de paciente é madrinha desse projeto, à presidente Elione, que lidera com doçura firme, e à Dona Leila, nossa Embaixadora de Luz, que nos lembra diariamente que a bondade também tem forma, tem voz e tem caminho.

Cuidar, para mim, é deixar sementes. A criança que aprende cedo a cuidar de si será o adulto que saberá cuidar do outro. É assim que a transformação acontece. De maneira serena, contínua, quase silenciosa, mas definitiva.

No fim, cuidar do outro também cura partes nossas. E talvez essa seja a mais bonita verdade da medicina: ninguém protege o outro sem também ser transformado pelo amor que oferece.

Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade feminina