Quando criança ouvia os adultos dizerem que o melhor carnaval mato-grossense era o de Corumbá.
Muitos deixavam Cuiabá para se divertir lá.
Nunca soube ao certo porque Corumbá tinha essa fama. Alguns diziam que era pela animação do carnaval de rua, outros, pela beleza das moças que por lá desfilavam.
Divido o carnaval de Cuiabá em dois períodos: até 1953 e depois de 1966 até os dias atuais.
Nesse intervalo morei no Rio de Janeiro, onde estudei e conheci o carnaval carioca, com desfiles de cordões carnavalescos na Avenida Central e na Rio Branco.
Nos grandes salões do Rio — como os do Copacabana Palace, Hotel Glória, Teatro Municipal, clube Fluminense, Botafogo, Country Clube, Gávea, Automóvel Clube e Iate — o carnaval ganhava um tom sofisticado, com fantasias premiadas e a presença de artistas de Hollyood.
Até 1953 o carnaval de rua de Cuiabá era pulsante, com blocos de mascarados e os irreverentes blocos dos sujos.
Os corsos desfilavam pelo centro da cidade, trazendo lindas mulheres em carros abertos, distribuindo beijos e simpatia, enquanto eram saudadas com confetes, serpentinas e jatos de lança perfume.
Nos desfiles das escolas de samba, destacavam-se as agremiações do Grande Terceiro e do Porto, sendo a mais popular a ‘Pega no Meu Coração’, do lendário Nhozinho.
Nos anos 1940 e 1950, os bailes nos salões do Grande Hotel e Clube Feminino eram famosos.
Já a partir da década de 1960 o carnaval cuiabano ficou praticamente restrito aos clubes: Sayonara, Dom Bosco, Náutico e, mais tarde, Balneário Santa Rosa, Tênis Clube e Monte Líbano.
Novas escolas de samba surgiram, como a Acadêmicos do Pedroca, a Deixa Cair e a Mocidade Independente Universitária, ligada à Universidade Federal.
Seus integrantes eram, em sua maioria, alunos, professores e servidores.
O diretor-geral da escola era o professor de Educação Física João Batista Jaudy.
O samba-enredo era composto pela ala de compositores da Beija-Flor de Nilópolis, e a Reitoria custeava os desfiles.
Era um espetáculo ver a escola passar, com suas lindas meninas luxuosamente fantasiadas.
Durante os anos em que desfilou, a Mocidade Universitária foi sempre campeã, arrastando multidões para a avenida.
Mas, como tudo na vida, o carnaval cuiabano foi se transformando. A folia de rua ficou restrita a um único bloco, a Turma da Laje.
Os clubes fecharam suas portas. Brincar na rua já não faz parte da cultura desta geração.
Hoje, os foliões se contentam em festejar na Chapada dos Guimarães ou pular no Sambódromo no Rio de Janeiro.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT