A chamada névoa mental, ou brain fog, é um conjunto de sintomas que afeta a clareza de pensamento, a memória e a concentração. Muitas mulheres descrevem a sensação de ter a mente “embaçada”, dificuldade em acompanhar uma conversa, esquecer palavras simples ou perder a linha de raciocínio em tarefas do dia a dia. Embora geralmente temporária, a intensidade e a duração podem variar bastante.
Durante a perimenopausa e a menopausa, a queda dos níveis de estrogênio desempenha papel central nesse processo. Esse hormônio está envolvido na produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, essenciais para o humor, a memória e o desempenho cognitivo. Quando seus níveis caem, surgem sintomas como alterações de humor, dificuldades cognitivas e a conhecida névoa mental. Além disso, distúrbios do sono e aumento do estresse, comuns nessa fase, contribuem para agravar o quadro.
Os sintomas mais relatados incluem dificuldade de concentração, esquecimento, lentidão no raciocínio, fadiga mental, confusão, exaustão e a sensação de não encontrar as palavras certas. Estudos indicam que cerca de 60% das mulheres na menopausa podem apresentar esse conjunto de sinais.
É importante destacar que o brain fog não deve ser confundido com outras condições. Diferentemente da depressão, em que há persistente alteração de humor; do burnout, ligado ao estresse crônico do ambiente de trabalho; ou da demência, que compromete a funcionalidade de forma progressiva, a névoa mental está diretamente ligada às flutuações hormonais da menopausa. Trata-se de um quadro temporário e, felizmente, tratável.
Embora não exista um tratamento único e específico, diversas estratégias podem ajudar a reduzir o impacto da névoa mental no cotidiano. Entre as mais eficazes estão: manter hábitos regulares de sono, praticar atividade física diária, adotar uma alimentação equilibrada, fazer pausas periódicas ao longo do dia para evitar sobrecarga mental e incluir exercícios cognitivos, como leitura, jogos de memória ou aprendizado de novas habilidades. A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, pode trazer benefícios adicionais.
A terapia hormonal também pode ser considerada em alguns casos. Ao repor o estrogênio, é possível melhorar sintomas típicos da menopausa, incluindo a névoa mental. No entanto, essa decisão deve ser individualizada, sempre após avaliação médica cuidadosa dos riscos e benefícios.
Outro aspecto importante é tranquilizar as mulheres: sentir a mente mais lenta ou confusa nessa fase da vida não significa, necessariamente, estar desenvolvendo demência. Essa preocupação é comum, mas o brain fog é um fenômeno diferente e não está associado à perda irreversível das funções cognitivas.
Criar uma rotina organizada, evitar múltiplas tarefas ao mesmo tempo, escolher momentos do dia em que se tem mais energia para atividades que exigem concentração e simplificar tarefas complexas também são técnicas úteis para contornar as dificuldades.
A menopausa é um processo natural, mas nem sempre livre de desafios. Reconhecer a névoa mental como parte desse período é fundamental para buscar apoio, adotar medidas práticas e garantir mais qualidade de vida. Com acompanhamento adequado e ajustes no estilo de vida, é possível atravessar essa fase com mais clareza, disposição e confiança.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, especialista em endometriose e infertilidade