MÁRCIO VIDAL

Benedito Pereira, homenagem a um magistrado brilhante

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Benedito Pereira, homenagem a um magistrado brilhante

É com profundo pesar que me despeço do Desembargador aposentado Benedito Pereira do Nascimento, falecido aos 86 anos, ocorrido nesta quarta feira, 30 de julho de 2025, em Cuiabá.

Tive o privilégio de ser membro da 4ª Câmara Cível ao lado dele e do querido Desembargador José Silvério Gomes.

Aprendi muito com a sua experiência; era uma unanimidade pela capacidade técnica e pelo coração generoso.

Dividimos não só votos e sessões, mas também uma visão de futuro para o Judiciário, sempre comprometidos com a efetividade do processo e a defesa intransigente dos direitos fundamentais.

Nosso colega era pai do Juiz Renan Carlos Leão Pereira do Nascimento, titular da 4ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis; do Servidor Público, Jordam Leão Pereira do Nascimento; da médica Jorama Leão Pereira do Nascimento; e marido dedicado da senhora Odete.

Natural de Cuiabá, nascido em 3 de abril de 1939, iniciou sua carreira como promotor de Justiça e atuou, por 16 períodos, como procurador da República.

Ingressou na Magistratura em comarcas do interior, como Rosário Oeste e depois Cuiabá, onde foi diretor do fórum.

Integrante das Câmaras Cíveis e Criminais Reunidas, do Conselho da Magistratura e da Comissão de Concurso para Juiz de Direito, presidiu o Tribunal de Justiça de Mato Grosso de 1º de março de 1983 a 27 de fevereiro de 1985, tendo ocupado, também, as funções de Corregedor‑Geral da Justiça e Vice‑Presidente da Corte.

Ainda, exerceu o cargo de Presidente do Tribunal Regional Eleitoral e, além de Magistrado, foi ativo nas associações de classe, como a Associação Mato Grossense de Magistrados (AMAM) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), tendo participado, também, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

Professor Titular da Universidade Federal de Mato Grosso, onde lecionou, por muitos anos, a disciplina de Direito de Família e Sucessão.

Aposentou‑se em 2009, deixando marcas profundas de ética, responsabilidade e espírito público.

Ocupava a cadeira n. 20 da Academia Mato Grossense de Letras, sempre valorizando a cultura e a memória do nosso Estado.

Quem o conheceu sabe que o “Pereirão”, carinhosamente chamado pelos mais íntimos, não era apenas um jurista tecnicamente brilhante; era também um contador de histórias, com humor rápido e sagaz.

Nas sessões, sabia aliviar tensões com um sorriso e um comentário espirituoso.

Visionário, refletia sobre a necessidade de modernizar o Poder Judiciário, sem perder de vista os valores humanísticos que devem nortear nossa missão.

No mundo jurídico, por vezes austero, o Des. Pereira era um exemplo de que é possível conciliar seriedade com gentileza, sobriedade com leveza e rigor técnico com linguagem acessível.

Com toda a certeza, sua matéria se despede, mas deixa um legado de votos densos e bem fundamentados, de decisões equilibradas e de profunda atenção aos mais vulneráveis.

Recordo-me de que ele tinha a habilidade de “traduzir o Direito” para o cidadão comum, prática que hoje chamamos de “linguagem simples”.

Aos familiares, especialmente ao colega Juiz Renan e ao dedicado Servidor Jordam, e também aos amigos que conviviam com esse grande homem público, estendo minha solidariedade e meu abraço fraterno.

Sem medo de errar e com toda a convicção, afirmo que o Poder Judiciário e a sociedade mato-grossense ficam órfãos de um mestre, mas herdam seu exemplo de integridade, humanismo e competência.

Que Deus conforte o coração de todos e acolha nosso querido amigo.

Márcio Vidal é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso e Ex membro da 4ª Câmara Cível