Ao longo da minha trajetória na dermatologia, percebo cada vez mais a diferença entre seguir modismos e cultivar uma beleza que resiste ao tempo. Sempre acreditei que o verdadeiro propósito dos procedimentos estéticos não é criar rostos idênticos, mas realçar aquilo que já nos torna singulares.
É impressionante observar como as tendências estéticas surgem em ondas. De repente, um formato de rosto, de nariz ou de lábios passa a ser perseguido como se fosse a fórmula da beleza universal. Mas a verdade é que não existe rosto perfeito. Existe história pessoal, identidade, expressões únicas — e nada disso pode ser substituído por um padrão passageiro.
Nos últimos anos, o avanço de técnicas e recursos como preenchedores, bioestimuladores, toxinas e tecnologias de remodelação de pele trouxe possibilidades incríveis. Mas esses mesmos instrumentos podem gerar distorções quando usados sem sensibilidade, apenas com a intenção de copiar moldes prontos. O que deveria ser cuidado e valorização da individualidade acaba, muitas vezes, apagando a essência de quem somos.
Essa minha preocupação não é só teórica. Um estudo publicado no Aesthetic Surgery Journal em 2022 mostrou que pacientes motivados apenas por modismos apresentaram, ao longo do tempo, maior insatisfação com sua autoimagem e dependeram de mais retratamentos corretivos. Em contrapartida, aqueles que buscaram resultados sutis e respeitaram sua identidade tiveram índices muito mais altos de satisfação duradoura. Isso confirma algo que vejo todos os dias na prática clínica: os excessos cobram seu preço, mas a sutileza permanece.
Muitos pacientes me procuram com referências de celebridades, influenciadores ou filtros de redes sociais. Eu sempre procuro lembrá-los de que essas imagens não traduzem quem eles realmente são. Meu papel não é transformar rostos para que se pareçam com outros, mas valorizar aquilo que cada um já tem de melhor. Quando alguém sai do consultório, olha no espelho e se reconhece, sei que o tratamento cumpriu seu propósito.
Acredito que a dermatologia de excelência não se resume a aplicar técnicas. É preciso escutar, compreender expectativas, respeitar proporções e histórias individuais. É dessa escuta atenta que nasce a beleza atemporal.
Em tempos em que a pressa e os padrões superficiais ditam as tendências, meu compromisso é com uma estética humanizada, discreta e ética. Porque, no fim, sofisticação de verdade não está em copiar a aparência que todos querem, mas em preservar a singularidade que faz cada pessoa única — e isso, sim, atravessa gerações com dignidade.
Cíntia Procópio é dermatologista, especialista em rejuvenescimento com naturalidade - CRM: 5156 / RQE 2711