GABRIEL NOVIS NEVES

As flores e músicas

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As flores e músicas

Para agradar aos leitores envio minhas crônicas diárias por listas de mensagens no WhatsApp, sempre acompanhadas por uma flor do meu jardim.

À noite acrescento uma canção, de preferência da música popular brasileira.

O editor, por sua vez, capricha nas ilustrações — tão apreciadas pelos leitores que, muitas vezes, recebem mais comentários que as próprias crônicas.

O mesmo acontece com as flores que envio, sempre despertando encantamento.

À noite, para que não se esqueçam da leitura, escolho uma música do fundo do baú e compartilho.

Essas canções reavivam sentimentos adormecidos e, em resposta, recebo elogios pelo bom gosto.

Poucos, porém, acreditam que a música também mexe comigo.

Mantenho contato constante com o editor, que acompanha o número de acessos ao blog do Bar do Bugre para identificar as preferências dos leitores.

Tenho escrito uma série sobre os hábitos da antiga Cuiabá — tema que não desperta tanta curiosidade como esperava.

Ainda assim, o editor me anima a continuar, lembrando que a leitura não faz parte dos interesses da maioria dos jovens.

Já as flores, por outro lado, conquistam a todos.

Têm o charme de serem colhidas no jardim da cobertura do apartamento onde moro.

Não sou escritor de best-sellers.

Apenas gostaria de ser lido e comentado por metade dos amigos que recebem minhas crônicas.

Muitos pedem para ser incluídos na lista de envio, mas depois não leem, não comentam e ainda me cobram por não ter sequer um livro impresso.

Tenho, entretanto, o blog Bar do Bugre, de livre acesso, onde é possível pesquisar as crônicas publicadas desde 2009.

Ali já caberiam trinta livros, com cem textos cada.

É uma fonte inesgotável de leitura — e gratuita.

Aos noventa anos, continuo escrevendo duas crônicas por dia.

Só deixo de fazê-lo quando as preocupações da administração da casa me tomam o tempo e a serenidade.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado