O ano ainda não acabou. Talvez tenha acabado a tinta da impressora, a pilha do controle remoto, o pão da padaria. O ano, não.
Ainda não tocou o sinal do último recreio, o Papai Noel ainda não passou apressado em seu trenó.
Um projeto ou outro já tem licença poética para ser deixado para o ano que vem. Mas o vento ainda sopra as folhas das mangueiras e os frutos estão a madurar.
As últimas páginas da agenda ainda esperam uma anotação, um evento do qual não se deve esquecer.
O calendário ainda tem esperança de ser guardado como lembrança de um tempo bom, com um coração desenhado em uma data de dezembro.
Ainda há um boleto, uma pendência, uma promessa a ser cumprida.
Os óculos trocaram de grau, o céu mudou de cor, a aliança mudou de mão.
A criança que só balbuciava, já fala “mamãe”. Quantas fases da lua em um ano...
O livro ainda espera uma dedicatória, empoeirando na escrivaninha. A caneta não assinou nenhuma carta.
O fim do ano é um abalo sísmico que faz cair por terra o que não foi feito para durar.
Mas o ano ainda não acabou. Ainda há tempo de uma reconciliação ou de um ponto final.
Ainda há um suspiro, uma flor em botão esperando para desabrochar, umas reticencias... porque ano ainda não acabou.
Rejane Monge é nutricionista formada pela UFMT e servidora pública estadual