GABRIEL NOVIS NEVES

Abelhas no jardim

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Abelhas no jardim

Nas manhãs ensolaradas, o jardim da cobertura do meu apartamento era o palco para as abelhas.

Vinham em revoada, atraídas pelas flores que se abriam em silêncio, espalhando perfume e cor.

O zumbido constante anunciava vida e movimento — um som que, desde sempre, fez parte da paisagem das casas cuiabanas.

Minha mãe dizia que as abelhas eram trabalhadoras incansáveis e respeitavam quem respeitasse o seu espaço.

Eu ficava observando, curioso aquele vai e vem disciplinado.

Cada abelha parecia saber exatamente o que fazer — nenhuma se perdia, nenhuma se atrasava.

Havia no jardim roseiras, jasmins e manacás.

As abelhas pousavam com leveza nas pétalas e, num instante, levantavam voo levando o pólen para outras flores.

Sem saber, realizavam o milagre da reprodução das plantas, garantindo que o jardim florescesse o ano inteiro.

De vez em quando, um grande enxame aparecia, formando uma nuvem no ar.

Era o sinal de que uma nova rainha havia nascido e parte da colmeia saía em busca de morada.

Esses enxames não são perigosos — apenas mudam de casa.

Em poucos dias, partem em silêncio, deixando para trás o perfume das flores e o susto dos curiosos.

As abelhas só atacam quando percebem ameaça à colmeia.

Defendem a rainha e o mel com coragem admirável, mesmo que o preço seja a própria vida.

Quando uma abelha ferroa, morre logo depois.

É o seu sacrifício pelo bem da comunidade — um exemplo de amor coletivo.

Na agricultura, são as grandes jardineiras do mundo.

Ao transportarem o pólen de flor em flor, garantem frutos, sementes e fartura.

Mais de setenta por cento dos alimentos que chegam à mesa dependem desse trabalho silencioso.

Hoje, quase não se veem abelhas nos jardins das cidades.

Mas, quando uma surge sobre uma roseira, paro para escutar o seu zumbido.

É como ouvir a voz da natureza, ainda viva e paciente, lembrando que a vida floresce no silêncio.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado