Quando eu exercia a reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, a minha casa, na rua Major Gama, no Porto, vivia cheia de visitas.
Não eram convidadas. Simplesmente vinham.
À noite, após o expediente administrativo na UFMT, muitos dos seus técnicos e docentes apareciam por lá. Era o momento de repassar os fatos do dia.
Todos eram jovens e essas conversas se estendiam até altas horas.
Deputados, após a sessão noturna da Assembleia Legislativa, também seguiam para lá, em rodas animadas com whisky, liderados pelo Canelas.
Milton Figueiredo, Augusto Mário Vieira (deputado e cassado), Bento Machado Lobo — eram presenças frequentes.
Nas noites de sexta e sábado, Fernando Pace e Sonia Pereira jogavam biriba com a minha mulher, até o dia clarear.
Depois, saiam para comprar bolo de arroz quentinho, feito na hora, e tomar com cafezinho passado na hora.
O único jogo que aprendi foi o xadrez. De cartas, nunca entendi nada.
Até o governador quando por aqui, dava uma passada.
Jornalistas como J. Maia, Caio Turqueto, Gilson de Barros, radialista Dirceu Carlino — eram ausências sentidas.
Nunca convidei, tampouco esperei por alguém que não aparecesse — e isso revela o verdadeiro valor da presença.
Éramos todos amigos, uns desde a infância como o Augusto Mário Vieira, afilhado de meu pai.
Certa ocasião, vendo a casa cheia, ele fez uma profecia:
— Esta será a última casa cuiabana!.
Quando fechar, não teremos mais onde ir à noite para conversar.
Acertou em cheio!.
Logo me mudei para um edifício de apartamentos, e a casa do Porto virou ponto comercial.
As visitas foram desaparecendo aos poucos.
Também deixei de esperar por elas — mas conservei o afeto, a lembrança, a expectativa e o valor das suas presenças.
Hoje, evito receber visitas, participar de aglomerações ou reuniões em casa — precaução contra infeções virais, frequentes nos mais velhos.
Os encontros se reduziram aos almoços de sábado com filhos, noras, genro, netos, bisnetos e babás — quando não estão viajando.
E a visita que não veio...
... se encontra agora pelo WhatsApp — sinal dos tempos modernos.
Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado