GABRIEL NOVIS NEVES

A visita que não veio

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A visita que não veio

Quando eu exercia a reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, a minha casa, na rua Major Gama, no Porto, vivia cheia de visitas.

Não eram convidadas. Simplesmente vinham.

À noite, após o expediente administrativo na UFMT, muitos dos seus técnicos e docentes apareciam por lá. Era o momento de repassar os fatos do dia.

Todos eram jovens e essas conversas se estendiam até altas horas.

Deputados, após a sessão noturna da Assembleia Legislativa, também seguiam para lá, em rodas animadas com whisky, liderados pelo Canelas.

Milton Figueiredo, Augusto Mário Vieira (deputado e cassado), Bento Machado Lobo — eram presenças frequentes.

Nas noites de sexta e sábado, Fernando Pace e Sonia Pereira jogavam biriba com a minha mulher, até o dia clarear.

Depois, saiam para comprar bolo de arroz quentinho, feito na hora, e tomar com cafezinho passado na hora.

O único jogo que aprendi foi o xadrez. De cartas, nunca entendi nada.

Até o governador quando por aqui, dava uma passada.

Jornalistas como J. Maia, Caio Turqueto, Gilson de Barros, radialista Dirceu Carlino — eram ausências sentidas.

Nunca convidei, tampouco esperei por alguém que não aparecesse — e isso revela o verdadeiro valor da presença.

Éramos todos amigos, uns desde a infância como o Augusto Mário Vieira, afilhado de meu pai.

Certa ocasião, vendo a casa cheia, ele fez uma profecia:

— Esta será a última casa cuiabana!.

Quando fechar, não teremos mais onde ir à noite para conversar.

Acertou em cheio!.

Logo me mudei para um edifício de apartamentos, e a casa do Porto virou ponto comercial.

As visitas foram desaparecendo aos poucos.

Também deixei de esperar por elas — mas conservei o afeto, a lembrança, a expectativa e o valor das suas presenças.

Hoje, evito receber visitas, participar de aglomerações ou reuniões em casa — precaução contra infeções virais, frequentes nos mais velhos.

Os encontros se reduziram aos almoços de sábado com filhos, noras, genro, netos, bisnetos e babás — quando não estão viajando.

E a visita que não veio...

... se encontra agora pelo WhatsApp — sinal dos tempos modernos.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado